sábado, 7 de agosto de 2010

Le Ciel

Por mais terápico que seja, é preciso levantar um pouco o meu queixo e enxergar o que não seja sofrimento. Meu ou dos outros, mas que não seja dor.

Este post é uma homenagem silenciosa aos também silenciosos e anônimos voluntários do CVV ao redor do Brasil. Eu já quis me matar, já carreguei o caixão de um suicida e, depois de quase convencido da inexistência de Deus, o valor da vida humana aumentou bastante para mim.

Isso, claro, não quer dizer que eu tenha deixado de tratá-la com o devido respeito durante todo o tempo. Há melhora, felizmente.

Você...aliás, você quem, acho que mal lêem isso...anyway, poucas são as pessoas que conhecem um voluntário do CVV. Aliás, alguém sabe aonde fica a sede do CVV aqui em Natal? Em uma rua escura e meio perigosa do centro da cidade. Longe de qualquer glamour, não é Petrópolis nem Ponta Negra. Por sinal, pelo que fui informado, calharam de montar um prostíbulo improvisado na frente da sede, bordel este que funciona nas ruínas, exato: ruínas, de uma casa colonial e há muito abandonada.

Alguém aqui tem idéia que dezenas de pessoas nesta cidade doam 4 horas e meia por semana para trancarem-se naquela casinha, pois já a vi e é pequena, e ficar esperando um telefone tocar? Então, quando isto acontecer, primordialmente ouvir e sequer tentar julgar ou se posicionar?

Eu critico a quase absoluta imparcialidade, afinal uma pessoa em dor geralmente busca aconselhamentos. Ainda assim, eu, como homem que já recorri dos serviços deles, digo que são bastante cautelosos quanto a dizerem o que acham sobre o que é contado.

Pior é quando o plantão é noturno, no qual eles têm que dormir em um quarto simples, partilhado por todos, sempre esperando um telefone tocar. Não, não há seguranças na sede, sequer câmeras. Não que deva haver muito o que se roubar por lá, mas a questão é:

Você sairia da sua cama quente, muitas vezes de ônibus, para ir dormir em um quase casebre em frente a uma bocada na Cidade Alta, para esperar que alguém que está passando por um aperto te telefone e, por fim, você possa, quem sabe, ajudar?

Eu já fui mais generoso e altruísta. A diferença, acho, entre os dois, é que o altruísmo é uma forma disfarçada de egoísmo, pois espera retorno. Já a generosidade, até onde entendo, é mais sincera e despretensiosa.

Em dias como hoje, em que acho que o mundo está uma droga e praticamente só enxergo dor, lembro-me destas pessoas. Vem-me à mente também o Foo Fighters.

There goes my hero, watching as he goes. He's ordinary.

A questão é que compramos a idéia de que um herói de nossa sociedade tem que ter alguma característica desejável e externalizada, de acordo com o nicho na qual sua excelência abranja. Esses voluntários, que têm esta generosidade em si e, portanto, internalizada, são geralmente ignorados.

Isto é, quando não são chamados de otários por estarem perdendo tempo com um surtado qualquer. Afinal, uma pessoa que chega ao ponto de ligar para o CVV só pode ser louca ou surtada, não?

Talvez, se meu professor tivesse ligado para um desses heróis anônimos, ele ainda estaria vivo. Pouco provável, pois ele parecia bem decidido mas, ainda assim, seria uma outra chance para a vida, para que ele mudasse o que o incomodava, se isto fosse possível.

Meus profundos respeitos a esses homens e mulheres que fazem seu trabalho em quietude, não aparecem na TV ou vestem roupas chamativas e, mesmo assim, salvam vidas.

De fato, como diz o comercial abaixo, a morte nunca mata apenas o falecido. Falo por experiência própria. Sem mencionar, como diria o rapper Emicida, um monte de gente que está viva mas que já morreu.



Vez ou outra, compreensivelmente, sou criticado pela minha excessiva necessidade de ventilação. A estes, deixo este outro vídeo:



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