Pintores como eu são, essencialmente, simulacros de Deuses. Dar a vida ao nada ou, ainda, ao incompleto é um trabalho divino. As mulheres, em parte, também o são. Por dar a vida entenda-se como o processo transitório de um estado conceitual para outro. Minhas miniaturas, antes da pintura, são pouco. Após acender-se a chama da existência, tornam-se mais. Vejam bem, mais, não muito.
Assim como nós, querem ser muito mas, no fundo, poderiam ser mais alegres por serem mais do que teriam sido, caso não tivessem sido tocadas.
Os artistas são, essencialmente, simulacros divinos. A criação é divina, a destruição, não sei.
Deus não se repete: eu criei um padrão para minhas miniaturas. Ainda assim, mesmo obedecendo os padrões, cada uma é essencialmente única. Cada sentido de pincelada torna-as individuais. Uma sombra aplicada em local diferente as diferencia. Esses pequenos detalhes, assim como os defeitos dos borrões que deixei e não vi, só se vê de perto.
Não é nada diferente de nós. De longe, todos parecem iguais. O padrão se repete, a miríade composta por defeitos e características, toques pessoais, não.
Temos o toque pessoal do criador em nós, sem dúvida.
Assim como Deus, eu sou um homem solitário. Admito que existam outros como eu, outros criadores. Não sei aonde estão. Não estou destinado a me reproduzir, pois já sou.
A diferença é que a solidão de Deus não o incomoda, não mais, já que ele criou o todo à partir do nada. No meu caso, particularmente, minhas ferramentas de geração de companhia não são suficientes.
Eu estou sozinho.
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