Não, esse artigo não falará sobre auto-ajuda ou sobre como sair do sufoco financeiro. Hoje falarei das conclusões vindas de mais um dia de demonstração do Warhammer 40K em um evento de anime e RPG. Bem, mais anime do que RPG, mas isso será explicado mais à frente.
Sobre os preparativos, sabia-se que quatro mesas plásticas abrigaram uma ruína do set das Cities of Death, seis cenários urbanos feitos em casa montados em placas de MDF e um monte de miniaturas quase que escolhidas na hora, as mais bonitas o possível, para chamar a atenção.
Do momento do deploy até o início do jogo, pessoas observavam, por mais ou menos tempo, aquelas miniaturas negras e que, muitos não sabiam, haviam sido pintadas à mão. Muitos tiravam fotos, poucos atreviam-se a perguntar algo. Uso conscientemente o verbo “atrever-se” porquê hoje comprovei que o Warhammer como um todo, em um ambiente que desconhece o Wargaming como o temos hoje, parece uma coisa de outro planeta, caída para espantar e fazer parar as pessoas com um mínimo de interesse pelo tema.
Ficou-se sabendo que eventos de anime e mangá não costumam ser uma boa para realizarem-se demonstrações de Wargames. O motivo está no público: em um mercado como os E.U.A. , esses jovens de não mais que 23 anos e com algum dinheiro disponível para gastar seriam mais do que bem vindos. Aqui a coisa é diferente.
É justo que entenda-se que o mercado consumidor brasileiro de Wargames trabalha com uma inversão etária: aqui, geralmente quem consegue bancar o hobby são pessoas que têm poder aquisitivo para arcar com valores bem consideráveis. Ressalva-se o fato de que, mesmo nos países ricos, o gasto com miniaturas e demais fontes de entretenimento encontra-se no fim do orçamento da maioria das pessoas sensatas. Ou seja, você só gasta com miniaturas/RPG/Card Games quando já fez quase ou tudo o que tinha que fazer durante o mês.
A diferença é que, no Brasil, não se costuma ter muito dinheiro sobrando no fim dessa cadeia.
Jogar contra si mesmo para acelerar o processo e demonstrar melhor nem costuma ser um problema. Perceber que duas ou três pessoas, das muitas que pararam para ver, realmente prestaram atenção em algo é sim algo que te deixa um pouco para baixo. No mais, um conhecido pega o seu codex e abre um pouco demais para que, momentos depois, você perceba que os barbantes da encadernação estão aparecendo e que você não sabe se já estavam assim ou se foi ele. Ossos do ofício, codexes novos não são tão caros, só são bem raros.
A demonstração continuava até que uma constatação é firmada: alguns dos que pararam para observar conheciam o universo do Warhammer 40K devido aos jogos para PC. Digo-lhes com certeza que tais jogos nos ajudaram bastante e nos ajudarão muito mais do que até pensamos. Uma coisa é ver um jogo com um monte de miniaturas em um setting completamente alheio, outra coisa é ver as unidades que você viu no jogo, reconhecê-las e observar que as funções das mesmas não são tão diferentes assim.
Mas uma coisa é conhecer, outra coisa é dizer “sim” para a noiva e levar junto para casa os defeitos dela. Um bom exemplo somos nós: todos somos mais ou menos entusiastas de guerras e processos belicosos. Não adianta negar; se não o fôssemos, estaríamos jogando The Sims. A pergunta é: quem aqui quer ir para o exército trocar tiros?
O mesmo ocorre com as pessoas que observam e mais ainda com o pessoal que já jogou o jogo no PC e que, por outros motivos, conhece o fluff e o setting do jogo. Todo mundo acha massa mas ninguém quer ter trabalho e gastar a grana. Alguns até encarariam se pudessem, mas fatores como falta de tempo e dinheiro são levados em conta nessa fase.
A falta dos produtos sendo expostos na loja também atrapalha bastante. Quando alguém finalmente decide comprar, geralmente desiste sabendo que vai ter mais trabalho ainda para comprar o produto. Indicar as lojas nacionais é dar um tiro no pé, então sobram as possibilidades alternativas ou as lojas on-line. Quem tem cartão e paciência espera, quem não tem vai jogar outra coisa.
Porque, se qualquer jogo que você goste lhe proporciona diversão, você provavelmente vai atrás dela aonde ela se mostrar mais amigável, não? Wargames por aqui não são a forma mais apropriada para isso, pelo menos na minha realidade. Quando se tem mais gente já envolvida, o processo de inserção torna-se muito mais suave, fluido.
No final, alguém derruba um marine e arranca-lhe o braço. Pelo menos ele percebeu que quem pintava as miniaturas era eu. As pessoas até se espantaram ao saber que as miniaturas eram de plástico, querendo inclusive ver fotos de qual a cor teria uma miniatura plástica ou metálica. Eu me senti vindo de Júpiter. Não tem jeito, é preciso criar-se uma cultura, mesmo que a nível regional, para essa coisa toda de Wargaming.
Finalmente, acho que consegui alguém para jogar e que, incrivelmente, prefere entrar logo de cabeça no 40K, sem começar com nenhum skirmish game. O cara quer Tau, e se não tem Tau em Necromunda, ele prefere jogar 40K ou qualquer coisa que o tenha. Simples assim. Não deixei de pensar que, para se jogar por aqui, não basta só querer, tem que acreditar.
Foi positivo? Foi. Recomendo que, quem puder, faça ou continue fazendo. O milagre costuma vir mais rápido quando fazemos parte dele. Agora eu posso dizer que joguei um pouco nos últimos meses. Pelo que notei, também não fui furtado e nenhuma miniatura sofreu danos sérios. Só tenho lucros a receber.
“You want a miracle? Be the miracle”
-Morgan Freeman, no papel de Deus.
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