quarta-feira, 17 de setembro de 2008

1984

Smith, protagonista do aclamado romance do inexistente George Orwell vê-se, logo no início do livro, incitado a atacar verbalmente o homem que o Partido considera como o criador dos males socias, o grande, em palavras minhas, apóstata.

Quantas vezes eu não me vi e vejo repetindo os comportamentos que, mentalmente e em momento de reflexão, condeno. Nada como o momento para arrebatar os ânimos e me deixar mais perto daquele macaco priordial que, segundo os evolucionistas, me gerou.

Perdoem-me os criacionistas, mas tenho certeza que a ansiedade e a necessidade de manter-se em comportamento parecido aos demais não me leva, nestas situações, mais próximo de Deus.

O fato é que, mediante a tudo isso, lembro-me do Michel Foucault que veio com aquela estória de que a punição social é, por motivos óbvios, exercida pelos que estão mais próximos e que, também por condicionamento e hábito, repetem o comportamento esperado para o momento. Há tempos não experimentei crueldade tão grande quanto a de ser punido pelos que amo, saber que eles são reprodutores do que condeno e, finalmente, passar pela dor da descoberta de que meus objetos de desejo têm os pés de barro.

Como nem tudo são flores, basta tentar focar na parte, talvez pequenas, que o são. Assim, apesar da dor desta descoberta, há o prazer de se encantar com tudo o que me agrada e faz sorrir, coisas que só a convivência traz. Sim, é preciso acreditar na nossa grande geração perdida.

Já dizia Papai Noe...digo Carl Gustav Jung, que não há conscientização sem dor. Concordo plenamente e emendo:

"Não há conscientização sem dor e não há convivência sem amor. Só o que conhecemos como amor para sublimar a dor de descobrir a humanidade em que gostamos e para dar forças que permitirão que descobertas boas venham. A dor de uma descoberta agradável, e eu sei que ela existe, é uma extração de sangue em um mundo de amputações sem anestesia".


Pai, agora que você pode ver-me por completo, você me ama menos ao descobrir que, talvez, eu nunca fui, lá no fundo, quem você esperava que eu fosse?

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