Olá, Blog.
Meu nome é Marcelo. Na verdade, não é só Marcelo, mas um nome é suficiente para podermos conversar. Eu vim aqui porque tenho um problema e gostaria de falar sobre ele.
Eu sou um cara romântico.
Sim, isso, hoje em dia, parece um problema. É um problema no momento em que as relações afetivas atuais estão ficando cada vez mais utilitaristas a um ponto em que, dentro dos meus medos fantasiosos, imagino um tempo em que os casais morarão completamente separados, encontrando-se para a ocasional doação de esperma e para os eventos sociais. Ah, a doação de esperma não seria feita em nosso método tradicional, mas em uma situação quase laboratorial. Os filhos seriam criados, se brincar, por pessoas especializadas em fazê-los, já que a pressão do capital exige cada vez mais tempo para a produção pecuniária.
Claro que é um exagero, mas ele deixa bem denotadas as coisas que me dão medo: a queda da idéia de uma família unida, o utilitarismo sentimental e o eventual descarte humano e sentimental que isso traz. Hoje em dia, dar trabalho, em termos de relações afetivas é algo que está ficando menos tolerado. No futuro, por vezes contemplo: "tem um problema, chapa? Pague um psicólogo, já estou atolado com os meus e meu carnê da clínica de apoio está pago."
Não com essas palavras, ainda mais na sociedade brasileira, tão hipócrita em seus nãos, por vezes.
Eu sou romântico, gosto de saber se está tudo bem, mandar flores e fazer cafuné. Gosto de dizer que estou presente e de ouvir todas essas recíprocas. Também gosto de receber presentes. Em vários casos, me tornei o tal do "namorado chiclete". Essa combinação de uma conduta demodé com o meu tradicional exagero só poderia dar em furada.
No mais, vou ali ver meu filme e fantasiar sobre uma vendedora pobre de flores que, cortejada por mim, aceita meu pedido de casamento, que será feito entre amigos e com o máximo de luxo que os cinquenta reais do mês permitirem. E ela usará roupas remendadas especialmente para o dia do casamento, limpas com todo o esmero daquela barra de sabão de gordura de porco.
Quando chover e começarem a aparecer goteiras dentro de nosso casebre, fingiremos que são gotas de cristal que caíram das estrelas justamente em nossa casinha, e veremos nas gostas os reflexos da luz das velas enquanto elas caem. Quando a chuva passar, olharemos pela janela e observaremos como os edifícios, molhados pelas gotas, parecem lavados com um escovão. Ao fundo, a Torre Eiffel brilhará, como em todas as noites.
Agora me diga, Blog: quem diabos pensa nisso hoje em dia? O mundo hoje é cão, Sebastião.
Deus me ajude, eu sou romântico!
Falando nisso, eu cheguei a conclusão que sou um cara doente.
Obrigado, Blog.
Um comentário:
- demodé...me identifico em essa palavra.
Pensei que o mundo fosse bão, mas...não. rs
Pra quem escolhe a contramão pode ser. Ainda bem.
Postar um comentário