quarta-feira, 30 de abril de 2008

Pondo o Dedo na Ferida

E hoje falaremos sobre....pirataria!

É, o tema proibido lá no Warhammer Brasil, aquele tema que, de tão tabu, não pode ser objeto nem de uma discussão ou comentário com o menor teor possível de estímulo a prática. Aquele filho bastardo da comunidade brasileira de wargames que vez ou outra dá uma ligada para tentar falar com o pai mas, que, devido a nossas crenças, fingimos que não podemos atender.

Pirataria no Brasil existiu, existe e sempre existirá. Agora, me digam: qual é o diabo de mal nisso? Noventa por cento de todo mundo que já jogou ou joga wargame no Brasil, pelo menos que envolva miniaturas, já comprou uma mini pirata, mandou fazer ou ainda fez em casa. A questão não é se a pirataria no Brasil vai acabar ou não, coisa que acho que não vai, até porquê ela é útil e preenche um nicho que dificilmente será ocupado, mas sim porquê danado não conseguimos viver em paz com essa questão.

E antes que saiam dizendo, eu não tenho relações comerciais com nenhuma pessoa que um dia sequer já copiou uma miniatura. Miniaturas piratas, para mim, não são certas ou erradas. São um fato, uma consequência, no caso do Warhammer, de mais de 10 anos de vácuo total da empresa responsável pelo jogo, com exeção da nobre tentativa da Comic Store e da bem sucedida, so far, tentativa da Hobby Delivery.

E sim, minha gente: eu tenho um army também composto por miniaturas piratas. Ninguém vai atirar pedras já que quase todo mundo está com o rabo preso, mas repito novamente: a questão não é essa.

Será que, pelo menos dentro do fórum Warhammer Brasil, não se poderia encarar essa situação como o fato que ele é e estabelecer diretrizes concretas de relação com a situação ao invés de simplesmente dizer-se que não se pode fazer menção a essas coisas? Mas por PM, pode? Essa não é uma crítica aos comportamentos individuais, já que felizmente eu nunca encontrei ninguém que viesse dizer que não há nada disso por aqui, mas às regras de postagem no fórum.

Acho que agora vai ter mais gente ainda com antipatia a minha atitude controversa, mas, sinceramente, antes por o dedo na ferida do que ficar fingindo no aberto do fórum que a pirataria de miniaturas no Brasil é uma ficção.

Sílvio que faz certo, ao não querer tapar o sol com a peneira e trabalhar como se nada existisse. Só encarando o fato de maneira tranquila poderemos criar uma solução alternativa e viável para todos.

sábado, 26 de abril de 2008

A Comédia com a Realidade

Hoje estou vomitando e este será mais um deles.

Acabei de assistir mais um vídeo do fantástico Marcelo Médici no qual ele interpreta um animador de festas infantis que, bem, é sincero demais com crianças que, por sua condição, costumam ser poupadas do que há de ruim e da realidade cruel com eufemismos e ilusões:

http://uk.youtube.com/watch?v=80Z92vwD-ac


É impressionante como o público ri de tantas coisas tão sérias e deprimentes mas, sabem, acho que esta é a grande vitória do artista sobre a realidade cruel que ele apresenta de forma caricata e escrachada: debocha dela, faz pouco caso de um ente que está muito acostumado a ser levado a sério e derrota-a matando-a de raiva.

Não sei, nem sei direito o que é ser artista; desconfio apenas.

Isso me lembra que ando sem paciência para eufemismos. Vou dar o exemplo e tentar me valer menos deles.

Eu Havia Esquecido Disso

"Saudade? Não sei como é que você me aguenta, eu sou insuportável! Falo serio >< mas é bom saber que ainda existem pessoas pacientes no mundo *saudade tb*"

Droga, eu esqueci completamente que isso foi escrito. Também, faz tanto tempo!

Poxa, saudades mesmo. Saudades de quando isso aí em cima era viável, acontecia e era real. Saudades de um tempo morto.

P.S. O legal é que, caros leitores, ela nunca deve ter entendido como eu a "aguentava" por, bem, só aguentar quem se incomoda ou não concorda com o que está acontecendo ou com o que é. O fato é que eu não aguentava por não haver nada para "aturar".

O Trabalho

Bem, sabe-se pontualmente que a tecnologia tem como objetivos fundamentais a diminuição do trabalho (energia gasta) para o alcançe do objetivo e para a possibilitação de coisas que antes não eram possíveis. O tema que abordo hoje é o perigo de se querer ter trabalho de menos...

Isso, inclusive, é uma constante no dia de hoje.

O problema começa quando queremos ter menos trabalho em coisas que exigem trabalho. Daí temos os relacionamentos efêmeros, os velhos abandonados em asilos, a crença de que os grandes problemas do mundo são insolucionáveis, a idéia de que a corrupção está impregnada demais para se resolver e todo o derrotismo que possa advir da pornochanchada mental de quem escreve, lê, comenta e pensa.

Leitores, é claro que se até a água corre pelo caminho mais fácil até o mar, não é justo que nós tentemos ficar escalando muros a vida inteira. Porém, é necessário não deixar que essa acomodação frutífera e positiva não se transforme no monstro da indolência, desistência, efemeridade, descartabilidade e obesidade, como no caso dos E.U.A.

Isso sem falar no consumismo sem limites e na insatisfação eterna que gera a necessidade constante de se ter um novo jogo, um quadrinho, um novo console, mais moderno, mais rápido, mais forte, mais mais e mais e mais, mais, mais....

Jesus, estamos tornando as pessoas descartáveis também. Deve ser consequência do crescimento populacional e da diminuição do valor individual frente a coletividade à medida que a população aumenta. Seria bom se a analogia fosse mais contida. Quando é positiva, tudo bem, mas, quando é negativa, oh no.

Será que nosso futuro é Cyberpunk? Mega Corporações malvadas, cidades super lotadas e pessoas valendo menos que nada? Lembrando que hoje já matamos por um par de tênis ou ainda menos.

Argh.

Eterno Enquanto Dure

Esse vai ser curto e pouco prolixo:

Eterno enquanto dure o caralho.

Pode ser ótimo, bacaninha, joinha, super legal, intenso ou qualquer outro adjetivo que os senhores querem dar. "Eterno enquanto dure" é a coisa mais hipócrita e paradoxal que eu já ouvi nos últimos tempos. Ou é ou não é, não se pode vender a vaca e querer ficar com o leite. Tento aprender com essas frases também.

Vinicius que me perdoe, mas essa parece ser mais uma daquelas expressões que, muitas vezes vazias, são ditas com o objetivo de agradar quem amamos. Quem sabe um "super legal enquanto dure" seja mais honesto.

Mas ainda assim, acredito que tenha sido com intenção. Acho que só a escolha dos termos foi infeliz.

(k)

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Natália

Olá novamente,

Esse título é uma homenagem minha a uma música da Legião Urbana e que possui relação com o tema que abordarei neste artigo. Para os que quiserem conferir a letra na íntegra, segue o link: http://letras.terra.com.br/legiao-urbana/46958/

Neste momento não tratarei de nenhum tema relacionado ao hobby em si, e sim ao estado deste no atual momento. Todos sabemos que, mais uma vez, nos vemos envolvidos com a possibilidade de termos apoio oficial para os jogos da GW no Brasil e, com certeza, futuramente para jogos de outras empresas. As maneiras de abordar este tema variam e encaixam-se em padrões mais ou menos prováveis de acordo com o tempo de jogo de cada jogador, além de outros detalhes.

Os jogadores com menos tempo de hobby, geralmente também mais novos, costumam receber a notícia com empolgação e entusiasmo que são típicas da juventude. Muitos deles não se decepcionaram posteriormente com todas as tentativas fracassadas e a desesperança inerente. Já os jogadores veteranos costumam adotar o ceticismo daqueles que costumam prever como a coisa ocorreria.

O fato é que Natália é uma música bem negativa e pessimista e que, em um dado momento, mostra um lampejo de esperança e possibilidade. Percebo que este é mais um dos momentos em que nossa esperança será posta a prova. Nossa capacidade em tê-la, melhor dizendo. Não tento valorar comportamentos e afirmar que quem não acredita que desta vez poderemos ter algo concreto sobre nosso hobby aqui no Brasil está errado: afirmo que este é outro momento em que podemos fazer novamente a diferença acreditando e colaborando para que dê certo.

Os métodos de colaboração e suas intensidades são diversos, mas a crença deve existir. Se não for agora, quando será? Claro, não precisamos ser responsabilizados se não der certo, mas será muito melhor sermos responsabilizados por ter dado certo, não acham? Aos que não acreditam, peço mais um momento de tentativa e qualquer esforço bem intencionado que ajude. Aos que acreditam, vamos continuar acreditando e ajudando do jeito que der. Assim, quem sabe, poderemos dizer daqui há uns meses que valeu mesmo a pena.

"É preciso acreditar em um novo dia, na nossa grande geração perdida. Nos meninos e meninas, nos trevos de quatro folhas. A escuridão ainda é pior que essa luz cinza".

Aleijadinho

Antônio Francisco Lisboa...um cara que ninguém tem embasamento histórico para dizer que existiu mas, que ainda assim, é tido como figura histórica devido ao seu trabalho em Minas Gerais.

Quando eu me deparo com situações artísticas de pintura, escultura ou qualquer outra coisa difíceis, eu me valho do Aleijadinho. Não é santo, mas inspira. Não é possível que eu me recuse a fazer qualquer trabalho manual relacionado ao hobby quando eu me lembro que, teoricamente, aquele cara esculpiu os 12 profetas já praticamente sem os dedos das mãos e sem os pés. Não é muito justificável.

"Ah, mas eu não tenho obrigação de ser tão grande quanto ele. Somos pessoas distintas!"

Realmente, obrigação eu não tenho. Assim como eu não tenho obrigação de ajudar nenhuma pessoa que esteja em uma pior. Eu não tenho culpa da pobreza deles, tenho? A diferença não está na culpa ou na eventualidade que me torna quem sou, mas sim no fato de se vou ou não tomar uma atitude quanto ao fato.

Quando me lembro dele eu pinto, colo, queimo as mãos com silicone quente, entulho o quarto com cenários inúteis no presente momento e, mesmo assim, continuo fazendo no dia seguinte. O cara era mulato, resolveu ser artista no Brasil colonial (hoje ainda dizem que ser artista no Brasil é loucura, imagina naquela época), não largou o ofício apesar da degeneração dos membros (se fosse do nariz, nem seria algo tão espantoso) e eu, homem feito e saudável, vou me entregar por causa de 30 ou 40 marines, 6 bunkers e 10 cenários modulares para pintar e construir? Nem sob porrada.

Dizem que a função das lendas de heróis é nos lembrar que nós também podemos ser grandes.

E você, qual a sua inspiração motivacional?

A Importância dos Specialist Games

"Ah, é legal mas é caro..."

"Eu até compro, mas não tenho tempo para pintar..."

"Achei táticamente fraco..."

"Ocupa muito espaço!"


Olá novamente, senhores. Não tenho dúvidas que vocês já ouviram estas ou outras semelhantes frases que mostravam que o nosso hobby é legal mas, bem, sempre tem um problema ou outro. Encarando essa problemática de frente e tentando encontrar uma solução que não girasse em torno de coisas que não posso resolver, creio ter encontrado uma solução viável em nosso contexto para os principais problemas que afetam o hobby de miniaturas:

- Disponibilidade de tempo para se jogar

- Disponibilidade financeira para comprar os utensílios de jogo

- Disponibilidade de espaço para guardar os cenários e miniaturas

- Conhecimento ou noções da língua inglesa

Ao analisar essas questões, me lembrei, após um tempo, dos velhos zumbis da GW: os Specialist Games. Jogos que, segundo muitos, eram tão legais que foram retirados de produção pela GW por estarem tirando o brilho dos jogos principais da empresa, que são o Warhammer Fantasy, Warhammer 40K e o Lord of the Rings. Atualmente, tais jogos encontram-se em estado de "dormência", com regras novas e não oficiais sendo criadas por comunidades de fãs realmente engajados e, muitas vezes, inconformados.

Para fins de nota, tais jogos são o Bloodbowl, Necromunda, Epic, Warmaster, Mordheim,Battlefleet Gothic, Inquisitor e Battle of the Five Armies. A maioria deles é coberta na sessão de Specialist Games daqui do fórum ou ainda no www.specialist-games.com

Esse artigo não se aprofundará mais nos jogos em específico, já que esse é objeto de outros textos. Vim lhes falar do que tais jogos tem em comum:

- Todos, excetuando o Epic, Warmaster e Battle of Five Armies exigem menos miniaturas para se jogar do que a típica partida de um dos 3 jogos principais da GW

- A quantidade de miniaturas para se pintar também é menor, principalmente na linha skirmirsh*

- O investimento inicial para estar-se competitivo e com um grupo/army completo nestes jogos tende a ser menor, desde que observada a pesquisa de preços.

- Os cenários usados para jogar-se tais jogos tendem a ser menos numerosos e o espaço físico necessário também tende a ser menor.

- Não existe a pressão por compra de codices e de novas atualizações, visto que os jogos foram descontinuados e as regras básicas e atualizações feitas por fãs podem ser baixadas na internet.

- A quantidade de regras para se estudar também tende a ser menor, principalmente na linha Skirmish*.

- É possível adaptar-se com bastante sucesso o uso das miniaturas que já são usadas nos nossos jogos convencionais de 40K, Fantasy ou LotR para a linha Skirmish* dos Specialist Games.

- O fator de diversão destes jogos costuma ser muito longo e duradouro, visto que a maioria foca em campanhas, inclusive com consequências entre os jogos.


Um ponto negativo, porém, é que aqueles que têm dificuldade com a língua inglesa terão a mesma dificuldade para entender as regras dos Specialist Games. Ainda assim, acredito que, pelos motivos assinalados acima e pelas conclusões que surgem após a análise dos mesmos, é muito mais fácil e proveitoso para o iniciante integrar-se ao mundo dos jogos da GW através de um Specialist Game, aonde ele terá, com um investimento menor, uma satisfação que talvez ele não tivesse se estivesse jogando uma partida de um dos três jogos principais, só que com menos pontos.

Considerando que acredito que é imperativo que qualquer jogo de miniaturas aqui no Brasil apresente-se de maneira inclusiva para que assim possa conquistar público, os Specialist Games, a meu ver, podem assumir essa função. Ao invés de mostrar uma realidade na qual o iniciante terá que passar muito tempo comprando miniaturas e pintando-as para que ele alcançe uma pontuação adequada para combate, não seria muito mais estimulante dizer: "12 miniaturas e você estará equiparado a todos os outros".

Pensem nisso.

Reflexões

Não, esse artigo não falará sobre auto-ajuda ou sobre como sair do sufoco financeiro. Hoje falarei das conclusões vindas de mais um dia de demonstração do Warhammer 40K em um evento de anime e RPG. Bem, mais anime do que RPG, mas isso será explicado mais à frente.

Sobre os preparativos, sabia-se que quatro mesas plásticas abrigaram uma ruína do set das Cities of Death, seis cenários urbanos feitos em casa montados em placas de MDF e um monte de miniaturas quase que escolhidas na hora, as mais bonitas o possível, para chamar a atenção.

Do momento do deploy até o início do jogo, pessoas observavam, por mais ou menos tempo, aquelas miniaturas negras e que, muitos não sabiam, haviam sido pintadas à mão. Muitos tiravam fotos, poucos atreviam-se a perguntar algo. Uso conscientemente o verbo “atrever-se” porquê hoje comprovei que o Warhammer como um todo, em um ambiente que desconhece o Wargaming como o temos hoje, parece uma coisa de outro planeta, caída para espantar e fazer parar as pessoas com um mínimo de interesse pelo tema.

Ficou-se sabendo que eventos de anime e mangá não costumam ser uma boa para realizarem-se demonstrações de Wargames. O motivo está no público: em um mercado como os E.U.A. , esses jovens de não mais que 23 anos e com algum dinheiro disponível para gastar seriam mais do que bem vindos. Aqui a coisa é diferente.

É justo que entenda-se que o mercado consumidor brasileiro de Wargames trabalha com uma inversão etária: aqui, geralmente quem consegue bancar o hobby são pessoas que têm poder aquisitivo para arcar com valores bem consideráveis. Ressalva-se o fato de que, mesmo nos países ricos, o gasto com miniaturas e demais fontes de entretenimento encontra-se no fim do orçamento da maioria das pessoas sensatas. Ou seja, você só gasta com miniaturas/RPG/Card Games quando já fez quase ou tudo o que tinha que fazer durante o mês.

A diferença é que, no Brasil, não se costuma ter muito dinheiro sobrando no fim dessa cadeia.

Jogar contra si mesmo para acelerar o processo e demonstrar melhor nem costuma ser um problema. Perceber que duas ou três pessoas, das muitas que pararam para ver, realmente prestaram atenção em algo é sim algo que te deixa um pouco para baixo. No mais, um conhecido pega o seu codex e abre um pouco demais para que, momentos depois, você perceba que os barbantes da encadernação estão aparecendo e que você não sabe se já estavam assim ou se foi ele. Ossos do ofício, codexes novos não são tão caros, só são bem raros.

A demonstração continuava até que uma constatação é firmada: alguns dos que pararam para observar conheciam o universo do Warhammer 40K devido aos jogos para PC. Digo-lhes com certeza que tais jogos nos ajudaram bastante e nos ajudarão muito mais do que até pensamos. Uma coisa é ver um jogo com um monte de miniaturas em um setting completamente alheio, outra coisa é ver as unidades que você viu no jogo, reconhecê-las e observar que as funções das mesmas não são tão diferentes assim.

Mas uma coisa é conhecer, outra coisa é dizer “sim” para a noiva e levar junto para casa os defeitos dela. Um bom exemplo somos nós: todos somos mais ou menos entusiastas de guerras e processos belicosos. Não adianta negar; se não o fôssemos, estaríamos jogando The Sims. A pergunta é: quem aqui quer ir para o exército trocar tiros?

O mesmo ocorre com as pessoas que observam e mais ainda com o pessoal que já jogou o jogo no PC e que, por outros motivos, conhece o fluff e o setting do jogo. Todo mundo acha massa mas ninguém quer ter trabalho e gastar a grana. Alguns até encarariam se pudessem, mas fatores como falta de tempo e dinheiro são levados em conta nessa fase.

A falta dos produtos sendo expostos na loja também atrapalha bastante. Quando alguém finalmente decide comprar, geralmente desiste sabendo que vai ter mais trabalho ainda para comprar o produto. Indicar as lojas nacionais é dar um tiro no pé, então sobram as possibilidades alternativas ou as lojas on-line. Quem tem cartão e paciência espera, quem não tem vai jogar outra coisa.

Porque, se qualquer jogo que você goste lhe proporciona diversão, você provavelmente vai atrás dela aonde ela se mostrar mais amigável, não? Wargames por aqui não são a forma mais apropriada para isso, pelo menos na minha realidade. Quando se tem mais gente já envolvida, o processo de inserção torna-se muito mais suave, fluido.

No final, alguém derruba um marine e arranca-lhe o braço. Pelo menos ele percebeu que quem pintava as miniaturas era eu. As pessoas até se espantaram ao saber que as miniaturas eram de plástico, querendo inclusive ver fotos de qual a cor teria uma miniatura plástica ou metálica. Eu me senti vindo de Júpiter. Não tem jeito, é preciso criar-se uma cultura, mesmo que a nível regional, para essa coisa toda de Wargaming.

Finalmente, acho que consegui alguém para jogar e que, incrivelmente, prefere entrar logo de cabeça no 40K, sem começar com nenhum skirmish game. O cara quer Tau, e se não tem Tau em Necromunda, ele prefere jogar 40K ou qualquer coisa que o tenha. Simples assim. Não deixei de pensar que, para se jogar por aqui, não basta só querer, tem que acreditar.

Foi positivo? Foi. Recomendo que, quem puder, faça ou continue fazendo. O milagre costuma vir mais rápido quando fazemos parte dele. Agora eu posso dizer que joguei um pouco nos últimos meses. Pelo que notei, também não fui furtado e nenhuma miniatura sofreu danos sérios. Só tenho lucros a receber.

“You want a miracle? Be the miracle”

-Morgan Freeman, no papel de Deus.

P.S. Se você tem um conhecido que é interessado em jogar e já conhece o fluff e se interessa pelo tema, não o negligencie, pois ele já passou por parte das etapas que fazem alguém entrar no hobby.

Que Tipo de Hobbysta É Você?

So you wanna be a Rock ‘n’ Roll Star....

Esse artigo é direcionado para você iniciante que decidiu envolver no hobby de pinturas, modelagem e jogo utilizando miniaturas. Provavelmente você está meio perdido diante da costumeira avalanche de informações e dúvidas que aparecem na frente de qualquer pessoa que queira iniciar-se neste passatempo sem ter visitado uma loja especializada ou com pouca ou nenhuma ajuda de amigos que já jogam. Assim sendo, vamos deixar os artigos com os Do’s e Don’ts nos jogos de miniaturas para outro momento e talvez outro autor.

Estou aqui para falar da sua vida.

“Como assim? O que isso tem a ver com esses bonecos?”.

Tudo, cara. Tudo.

A maneira como você enxerga o hobby vai ser fundamental em várias escolhas que você vai ter que fazer ao longo do tempo e que, tenha certeza, afetarão sua vida como hobbysta de maneira significante. Uma escolha que não condiga com o seu eu acabará por lhe trazer conseqüências indesejadas, tornando o hobby uma experiência menos agradável. Que tipo de conseqüências, você pergunta? Exemplificarei: você é um hobbysta com uma grande tendência para aproveitar o lado de jogos do hobby e gastar horas e horas a fio pintando pequenos detalhes para não se sentir inferiorizado quando frente aos outros jogadores. Ao invés de se preocupar menos com a pintura e seguir a sua essência neste aspecto, você poderá estar perdendo tempo precioso, tornando sua experiência menos prazerosa e acabar colocando a culpa no hobby e suas rotinas ou na empresa que fabrica o jogo.

Quando na verdade a culpa é sua.

Então, a sugestão para você que está começando agora ou para você que já começou faz tempo e que anda insatisfeito com o rumo da sua experiência com o hobby (sabemos que até jogadores de um mesmo jogo podem ter experiências totalmente distintas só por morarem em cidades diferentes) é de avaliar qual o aspecto do hobby de miniaturas que mais te agrada e investir com audácia nele, pois as chances de que o hobby assim lhe satisfaça são muito, mas muito maiores do que se você estiver focado em um aspecto que não lhe é muito atraente devido a circunstâncias diversas.

Exemplificarei minha idéia usando o exemplo de uma pessoa que me é muito íntima e cara: eu. Sempre fui um cara que apreciou o aspecto de jogo do hobby mais do que tudo. Meu negócio sempre foi e sempre será jogar. Porém, o destino me isolou em minha cidade sem ter ninguém realmente interessado (respeitando nossas circunstâncias) em Warhammer ou qualquer outro wargame. Assim sendo, e vi forçado a fazer coisas que não gostava e detestava, respectivamente: pintar mais e com mais cuidado e fazer cenários. Deus tivesse piedade de minha alma...

Não vou lhes dizer que são experiências ruins e que não me engrandeceram como hobbysta, pois até minha pintura está nitidamente melhor de acordo com meus padrões, que são bem chatos. O fato é que, apesar disso tudo, quando a coisa aperta e o calor bate, eu fico querendo mandar as tintas e o pincel para o inferno e resmungo para mim mesmo como não seria melhor se eu não estivesse rolando meus dados. E acreditem, se fosse para jogar, seria até debaixo de chuva.

Portanto meus caros, proponho e espero que esse artigo cause um ato de reflexão acerca de como o hobby lhes envolve, se os senhores se encontram no jogo certo e, principalmente, o que os senhores podem fazem para tornar a experiência como um todo mais empolgante. Afinal, estamos aqui para sermos felizes, não?

Chico Ciência

Eu não sei se vocês aí do sul tiveram muita exposição ao boom do movimento Manguebeat ocorrido no início dos anos 90. Foi um tempo de inovação cultural que teve por porta-estandarte um pernambucano de nome Francisco, que seria imortalizado como o novo Chico Ciência, o Chico Science.

Eu não gosto muito de pernambucanos que acham que Pernambuco é um estado ímpar e de maravilhas sem igual quando na verdade não o é, mas respeito enormemente o Chico. Não apenas pelos aspectos sonoro-culturais alardeados por ele, pela Nação Zumbi e pelo Mundo Livre S.A, mas também pelo fato de que ele, diziam, era um cara vanguardista e de idéias no lugar.

Em uma de suas músicas, ele proclamou: “Um passo a frente e você não está mais no mesmo lugar”. Isso tem me ajudado demais. Se você joga com a Guarda Imperial, meu amigo, pode lhe ajudar mais ainda.

Não há dúvidas que a frase é óbvia. Se preferirem algo mais cult, citarei supostamente Lao-Tsé, que afirmou que “a viagem de mil milhas começa com um passo”. Primeiro que não existia a noção de milha na China daquele período, mas a intenção dá perdão ao erro técnico. Sabemos que o esforço compreendido em nossa insistência em materializar nossa imaginação na forma de artesanato, pintura e jogos pode ser maior do que o homem comum de nossa sociedade está disposto a exercer. Ainda assim, nos tornamos contra-cultura e vamos em frente.

O cansaço maior não advém de se perceber o quanto já se fez, mas sim de que muitas vezes, ainda falta tanto que o trabalho vindouro parece incompatível com essa nossa realidade imediatista. O hobby de miniaturas definitivamente vai à contramão de muitas de nossas tendências modernas. Isso pode oprimir um pouco os jogadores um pouco menos seguros de seus objetivos profissionais.

Finalmente, afirmo que cada pequeno gesto em direção aos nossos objetivos fica eternizado na essência da realidade. Mesmo que roubem seu army amanhã, caro leitor, isso não muda o fato de que você retocou aquele pequeno detalhe ou pintou uma nova camada nos seus modelos por terminar. Não há imediatismo ou evento aleatório que lhe tome isso. Descanse, o que falta ainda não existe e o que já foi feito não lhe pode ser roubado. Paz.

O Império Não É Seu Amigo

Caro leitor, existe uma chance grande de que você joga, já jogou ou já teve vontade de jogar com os Space Marines, elite tática de choque do Império do Homem. Tão divulgados pela GW, não é fácil encontrar um momento em que eles não sejam destaque. Seja na forma de ilustrações, conteúdo de caixas para iniciação ao 40K e até mesmo na ótica usada para descrever as raças alienígenas em seus próprios codexes, os Space Marines estão sempre por lá.

Permitam-me expressar minha opinião pessoal de maneira bem direta: para mim, o foco do Warhammer 40K deveria estar na Guarda Imperial. Considerando que a quantidade de Space Marines perdidos pela imensidão da Galáxia aonde se passa a estória deve ser de, no máximo, 1 milhão e quatrocentos mil Marines e que a Guarda Imperial deve ter até uns duzentos ou trezentos bilhões de soldados, é esquisito ver como o foco do jogo faz com que passemos a vida vendo muito mais soldados dessa tropa de elite do que das multidões da Guarda Imperial.

E essa coisa de que todo mundo quer ser um super-soldado e expressa essa projeção através da aquisição dos Space Marines não cola: assistir aos feitos de superação dos lascados da Guarda Imperial e se imaginar no lugar de um deles pode ser tão divertido quanto. Lembremos dos Fuzileiros Espaciais das séries Doom, Quake e Aliens.

Sendo assim, considerando que existe uma grande chance que você é envolvido ou já se envolveu com os Marines, abordarei hoje um tópico nem sempre discutido nas rodas de conversa sobre o universo do Warhammer 40K: o comportamento da maioria dos Marines para com a população civil. Pincelarei também sobre as atitudes nem sempre tão legais do Império do Homem para com seus habitantes.

Os Space Marines, devido as circunstâncias de marketing desde a sua criação, criaram a impressão para a maioria das pessoas que não lêem o material da Black Library (eu incluído) de que eles são uma espécie de Super Mouse* do universo do 40K. Um grupo de elite que chega do além para chutar o traseiro inimigo e impedir que a desvalida companhia da Guarda Imperial, que já estava nas últimas, morra. O 40K é cheio de situações assim.

Devo salientar porém que os Marines estão mais para o B.O.P.E. do filme Tropa de Elite: eles salvam os policiais sem se misturar, falando grosso e ainda botando-os para carregar os corpos no final. Após isso, se mandam sem maiores explicações. Esse estereótipo não pode ser considerado gentil, pode? Pois bem, funciona assim na maioria das vezes. Os Space Marines, não nos esqueçamos, são um bando de fanáticos religiosos que passam o dia rezando e lutando, sofrem uma forte lavagem cerebral, já não são mais formalmente humanos e ainda por cima tem os melhores armamentos do Império.

Imagine que você conheça um cara taciturno, de passado duvidoso, misterioso, grosso, arrogante, que lhe vê como um ser inferior, fanático religioso e que você ainda por cima desconfia que te enfiaria a faca pelas costas se houvesse um motivo que ele achasse justo. Essa seria mais ou menos a transcrição de um Space Marine para a nossa realidade, sem mencionar que esse seu conhecido provavelmente portaria algumas armas na cintura e pior: ele teria mais um monte de amigos.

Com exceção de pouquíssimos Capítulos como os Lobos Espaciais e os Salamandras, os Marines estão se danando para a população da maioria dos planetas que eles acabam salvando. A reação na quase totalidade das vezes é de indiferença: daí para pior. Em poucos casos como os mencionados há três linhas, pode ser melhor sim.

Isso sem mencionar os massacres cometidos por Capítulos de Space Marines durante certas ocasiões: o mais chocante para mim foi o cometidos pelos Mãos de Ferro, no qual eles foram enviados para um sistema que cansou da maluquice e atraso social do Império e tentou criar uma sociedade nos moldes da nossa Terra contemporânea. Funcionou bem até a invasão, quando os Mãos de Ferro exterminaram 2/3 da população para que o resto do pessoal lembrasse do que acontecia com “traidores”. Não lembro se pouparam mulheres, crianças ou idosos.

Eu não diria que coisas assim acontecem porque existe contaminação do Caos nos Marines ou porquê eles simplesmente tem o “Diabo no corpo”. É difícil você dar valor a um passado que já se foi fazem muitas décadas de reforço diário da sua nova condição. Ao se tornar um Space Marine, um indivíduo tem que morrer para poder então nascer denovo. Essa desvinculação com todos os aspectos culturais, filosóficos, sociais e mentais que a condição de “ser humano normal” exercia gera um desapego profundo. O próprio Space Marine deve ver o seu antigo eu como um alienígena comparado ao que ele é atualmente.

Então pessoal, quando forem jogar com seus Space Marines novamente, não se esqueçam do que eles são. Uma máquina de guerra.

E quanto ao Império...um grande espaço físico habitado por uma infinidade de culturas diferentes unidas por um credo a um ser que ninguém nem sabe se era humano, quanto mais se ainda está vivo. Não consigo deixar de pensar no Imperador e não lembrar do Jesus. As semelhanças são óbvias. Até o Judas está presente. Na vida nada se cria...

Uma breve análise das condições gerais do Império mostram que este ainda não ruiu por um milagre (da Games Workshop?) e passa os anos caminhando no fio da navalha. Como se não fossem pouco o Caos, os Tiranídeos e o Império Tau, ainda há todo o risco de dissidência interna que já ocorreu denovo e, devido ao inchaço enorme do qual o Império padece, vai acontecer denovo. É difícil ser grande, gente boa.

Basicamente quem mantém essa muvuca toda no lugar é o Administratum e o Eclesiário (Tradução correta)? Um cuidando da parte administrativa e o outro da parte religiosa. Como vocês devem saber, esses aspectos são rigorosamente mantidos no lugar na base da bala e da imolação. Práticas que a nossa sociedade considera bárbaras são coisa comum em boa parte do Império. Quando falamos de Fantasy, até que vai, já que o Império de lá é medieval. No 40K, por outro lado, aplica-se um medievo futurista, aonde nem os piores Cyberpunks conseguem chegar perto.

Existem poucos lugares no universo do 40K aonde não se encontra um ambiente funesto cheio de prédios com caveiras e águias de duas cabeças (meu Deus, isso é normal!). Planetas-Paraíso, feitos para o descanso dos milhões que formam a elite universal, são um lampejo de sanidade em meio a um background tão grotesco.

O exemplo típico de como as coisas são negras no cotidiano Imperial é o comportamento dos Witch Hunters no Dawn of War: Soulstorm. Eles chegam no sistema dizendo que todo mundo é herege, seja Imperial ou não, que todos têm que padecer nas chamas da absolvição e que quem não achar bom vai morrer do mesmo jeito, só que não terá a alma salva. Se lembram dos julgamentos das bruxas na idade média? Se afundasse e morresse afogada, era inocente e iria para o céu. Se não afundasse, era culpada e seria morta também, só que indo para o Inferno depois.

Isso sem contar que, no citado jogo, os Witch Hunters saem confiscando tudo o que for necessário para a sua estadia nos territórios e adivinhem o que eles dão em troca? Uma banana bem grande. Na verdade eles afirmam que o Imperador recompensará os espoliados com seu amor infindável...agora me diga se você acha isso aceitável .

Finalmente, falarei da atitude blasé que afeta o com grande força Império e, em menor intensidade, toda e qualquer sociedade. Por atitude blasé, os estudantes de ciências sociais poderão atestar, entenda-se uma atitude de indiferença-alienante-induzida em relação a um ou mais temas. É, antes de tudo, uma maneira de se auto-preservar. Não podemos e não damos conta de termos contato com tudo. Isso é super normal, mas gera-se uma dificuldade para criar-se um link afetivo com as coisas das quais o indivíduo se aliena. Se você, meu caro leitor, às vezes esquece que aquele pessoal que passou ao teu lado hoje na rua não são apenas números, imagine como seria se você elevasse esse pensamento para o nível interplanetário.

Talvez é por isso que tanta coisa ruim acontece pelo Império e ninguém faz nada, ou então eles simplesmente nem tomam conhecimento do fato. Um pensamento para concluir o artigo. Eu lhe digo que Deus mora em Marte, ele está lá desde que ele se mandou da terra há dois mil anos atrás. Você não terá a mínima chance de ir lá conferir mesmo enquanto estiver vivo...e aí, é fácil de engolir? Aliás, Marte existe? É o que os cientistas dizem, mas eu mesmo não posso comprovar. Você pode? Don’t forget the Holy Terra, boys and girls.