sábado, 6 de novembro de 2010

Solidariedade

Pois o mundo não são só flores, mas também não só horrores.

Daniella: Estamos parecendo um clã, com essas fitas iguais!

Roberto e Marcelo riram e concordaram tacitamente.

Uma coisa foi eles terem me ajudado a amarrar os nós das fitas que tapam o buraco do insubstituível, outra coisa foi os dois usarem-nas também. OK, inicialmente foi por acharem bonitinho, mas depois que o significado foi explicado, houve um senso de solidariedade que, confesso, nunca esperaria deles.

Dizem que uma dor compartilhada é mais tolerável.

E assim, convenceram-me do que inicialmente não queria fazer, tendo eu mesmo justificado cabalmente: "OK, eu vou. Vou por vocês, pois ambos e até Paulo, com quem pouco falo, estão na minha vida há muito mais tempo do que ela."

Eles querem que eu vá e farei-o por eles, nem tanto por mim. Sinto-me temerário e apático, perdi outro personagem no Torchlight por causa disso. Clara e Marcelo estão mortos, mas Orwin permanece vivo. Para os diabos: recriarei todos os três e vou tomar mais cuidado, para que todos entrem e saiam vivos das catacumbas.

Solidariedade...meus bons amigos. Ah, sou grato por isso. Coisas aparentemente pequenas, como algumas fitas amarradas, me impedem de perder toda a fé nesta espécie amaldiçoada.

It's always good to have somebody to back you up, just like when you have a Wonderwall.


πάντα χωρεῖ καὶ οὐδὲν μένει
πάντα χωρεῖ καὶ οὐδὲν μένει
πάντα χωρεῖ καὶ οὐδὲν μένει
πάντα χωρεῖ καὶ οὐδὲν μένει
πάντα χωρεῖ καὶ οὐδὲν μένει
πάντα χωρεῖ καὶ οὐδὲν μένει

Todas as Frutas

Cada qual com seu luto, sua forma própria de expressar o inexpressável, pois a dor tem nome por obrigação. Não há palavras que realmente a expressem: caem antem sua natureza.

Estou cansado de ironias sacanas da vida...mas quem disse que tenho controle sobre isso? Minha mãe viajou e, há poucos dias, comprei uma embalagem com quatro pacotes de Trident Tutti-Frutti, pois o consenso é a melhor escolha. Pretendia dividi-los com ela.

Nem melancia nem morango: o diálogo geralmente nos ajuda e, dele, a mediania.

Meu luto é mascar um pacote por dia, extraindo dos chicletes cada momento de doçura até que se tornem desinteressantes e ensosos. Hoje terminei o segundo: um pacote por dia até que não haja mais chicletes, até que não haja mais nada.

Tolice minha, como se meia dúzia de chicletes fossem substituir um ser humano, suas presença e conformidade. Porém, sem muita alternativa, aos chicletes. Melhor do que beber Coca-Cola indiscriminadamente.

E agora, luto corrente, dois cordões coloridos circundam meu pulso esquerdo. Azul e verde, verde e azul.

Não existem cores, mas vontades imiscíveis.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Piada sem graça

Se Deus existe, ele deve ter uma lógica completamente alienígena, não gostar de mim no momento ou ainda ser meio sádico. Talvez, em outra instância, ele simplesmente não esteja ocupado conosco.

Minha mãe viajará amanhã, Sábado | 06/11/2010. Quantas vezes eu precisei e silenciosamente esperei por uma viagem assim? Não teriam uma ou mais viagens dessas evitado que meu relacionamento tivesse acabado? E agora, doze ou algo assim horas depois do rompimento, ela me comunica que vai viajar?

Isso tudo é uma piada sem graça.

Ouço o professor proferir palavras de Fiódor Dostoiévski e uma frase definiu-me causticamente. Aliás, o livro "Memórias do Subsolo", deste autor, é bem promissor.

"Eu sou o único e eles são todos."

I am a dark knight, a bitter ronin. I am somehow beaultiful, but doomed.


Samsara

Coca-cola 1000ml. Plástico, no need for glasses.


E bebeu do líquido negro como bebia da escuridão, até que o litro terminasse e não houvesse nada restante na embalagem de refrigerante, dentro de sua mente ou da própria escuridão, que origina-se e existe na ausência.

E após terminado o último gole, não era mais o mesmo, mas sentia-se como se fosse. Últimas malas arrumadas, caminhava em direção a sua nave espacial, finalmente consertada, e encaminhava-se de volta a seu mundo de origem.

Maldito Samsara-maya, viu.

The quote from Heraclitus is interpreted by Plato as:

πάντα χωρεῖ καὶ οὐδὲν μένει
Panta chōrei kai ouden menei

"Everything changes and nothing remains still"


Coca-cola 0ml. Plástico, no need for glasses.

Até que a vida os separe

The Smashing Pumpkins - Try, try, try.


Porque, na prática e para meu grande desgosto, é muito mais fácil que o título se configure como verdade do que a antítese; o casal de velhinhos que observa juntos a vida se esvair dos próprios corpos, dia após dia, até que aconteça de vez, em um momento.

Só espero que Sparks encontre alguém que seja suficiente, satisfatório a ponto de trazê-la paz e proporcionar algum retorno concreto, uma sensação de conforto. Teorizo que todos nós iniciamos nossas vidas acreditando em uma persona mítica que será 100% adaptada às nossas necessidades.

Mas como um dia após o outro é coisa muito boa e Serrotão foi aumentando sua valentia, começamos a perceber que aqueles 100% são inalcançáveis e tendemos a procurar alguém que tenha o maior quoeficiente possível. Há quem seja muito sortudo e encontre um par que tenha 85% do que se considera desejável e necessário para uma relação.

Empiricamente, acho que a maioria das pessoas encontra e se relaciona a longo prazo, quando o afeto não está imerso em interesses meramente materiais, com pares que obtêm, digamos, entre 60 e 78 pontos neste índice.

No meu caso com Wilhelmina, ela tinha um índice de 64 pontos percentuais. Já a mesma não me atribuiria mais do que uns 45, creio. Portanto, sem índice suficiente, sem encanto. A relação não se manteve sem a existência de um conjunto satisfatório de minhas características de personalidade.

É triste terminar um relacionamento gostando da pessoa, ainda mais trágico sabendo que ela gosta de você, só não o suficiente. Nesses casos, resta-me o recolhimento, a não busca por outra mulher, o foco em minhas questões, músicas para ajudar e 1 litro de Coca-Cola para, com o perdão da ênfase, entornar.

Hoje de manhã acordei com uma resposta à música de fim de namoros que o Travis compôs e que, em certo momento, diz: "What is a Wonderwall, anyway?"

A Wonderwall is somebody on which you can rest your sore head, a wall which's bricks you may back your rear upon, looking for protection. Someone to back you up, to be the pair of eyes behind your head, shoulders touching each other as in a last stand. Like a god damn team, as i always said!

A team on which the couple may not be looking to the same direction, but they are back-to-back and protecting themselves, having a 360 degrees field-of-view.

You don't have to face the same direction of the wall in order to feel safe. And oh, to the others it's just bricks but, if it's your Wonderwall, it becomes cottom upon the touch.

Eu tenho minha resposta, Travis. Eu já tive uma Wonderwall.

Tempos negros aproximam-se: o curso de Filosofia da UFRN vive um período tenso e soturno, estou quase trancando a disciplina de Lógica, Nísia está em um estado de apatia depressiva que a impede de voltar a trabalhar, a casa está uma imundície sob o reinado caótico de minha mãe, minha tia virá a esta cidade pela última vez na vida, creio, e não conhecerá a mulher que tanto gosto...

Mesmo com esse sol avassalador, darkness falls upon the land.

Neste contexto, abraço-a: torno-me um cavaleiro negro, um andarilho das sombras, um lobo solitário. Darkness surrounds me and i drink from it. I'm not Bruce Wayne anymore, for now i'm the Dark Knight.

The end times are nigh e "eu sou o escuro da noite", como diria Clarisse Lispector.

Na alegria e na tristeza, até que a vida nos separe: Los Campesinos!




We are beaultiful, we are doomed.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

La Danse de la Mort

From and including: Sunday, 25 December 2005
To, but not including : Tuesday, 2 November 2010

It is 1773 days from the start date to the end date, but not including the end date

Or 4 years, 10 months, 8 days excluding the end date

Alternative time units

1773 days can be converted to one of these units:
  • 153,187,200 seconds
  • 2,553,120 minutes
  • 42,552 hours
  • 253 weeks (rounded down)
------------------------------------------------

Cemitério. Gente chorando, orando, contemplando, fofocando, falando com lápides, sentada em cadeiras, procurando informações, discutindo, reclamando.

Gente.

Fiz algumas das coisas acima citadas, mas também outras. Aos mortos, a putrefação, a paz eterna de uma mente sem consciência, a saudade que se esvai junto com a vida do saudoso e, não menos importante, o respeito.

Lembro-me que meu pai dizia que, nos navios, via-se obrigado - provavelmente por ser de baixa patente - a tomar banho sobre as próprias roupas sujas, para que a água doce, escassa, lavasse o corpo e também as roupas.

Ah, mas é só mais uma estória triste. O mundo está cheio delas e, penso, qual será a próxima? Ao olhar a lápide, vi a queda espiralante, como em um enxame em movimento, de pétalas de flores.

As flores caíam e dançavam, a dança da morte no dia dos mortos. Porém, em suas cores brancas e vermelhas, eu apenas via vida. Ao aproximar-me dos limites do cemitério, contemplei a mata ao redor, caatinga híbrida, e vi vida pulsante.

As flores, ah as flores, flores que dei para minha querida, que caíram para celebrar a vida, que tentaram em vão fechar minha ferida...as flores.

E, Clara, os Titãs e eu estávamos certos: "...as flores de plástico não morrem." Acho que minha escolha de materiais foi acertada e, so far, tem alcançado o objetivo almejado: não morrer.

Porque, afinal, já há morte demais no meu passado. Chega: algo deve ser duradouro.

Senti-me aspergido quando as pétalas tocaram meu corpo e os arredores do túmulo. Vida enérgica fluiu dentro de meus vasos e, contente, pensei que o próprio pretenso criador estaria jogando água sobre mim, ungindo-me e protegendo-me do Mal.

Mas, neste mundo triste, as mãos do criador eram um helicóptero dos Cavaleiros do Forró e as flores só choviam porque tudo foi muito bem pago e, ainda, com data marcada. Não creio que tenham chovido flores nos cemitérios públicos.

Porque não, se a dor é universal? Aonde está o criador e seu senso de justiça, que derrama flores sobre os pagantes e poeira sobre os não-pagantes?

Ah, mas isso tudo é obra do ser humano, dirão.

Não importa: no dia dos mortos, as flores pagas e orquestradas me fizeram sentir vivo. Mesmo sendo algo tão iníquo em origem, percebo novamente que nada neste mundo tem conotação até que a criemos.

E a minha conotação foi linda: pétalas de flores que não eram de plástico e que morrem, mas que me encheram de vida.

"Isn't it ironic, don't you think?"

Yeah, Alanis. I so do think.


sábado, 30 de outubro de 2010

Coincidências

Nada mais adequado a minha nova intenção... o curioso é ver isso na sorte do Orkut e a frase ser advinda de quem o é. Ah, essas coincidências.



Life is too short to be spent in nursing animosity or registering wrongs. (Charlotte Bronte)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

29

Eu poderia ter escrito por extenso ou me utilizado de qualquer língua a que a internet me desse acesso. Para reforçar meu posicionamento vindouro, nada melhor que os globalmente compreendidos números.

Daqui há um dia, haverá mais um dia de alguma coisa, fato que, de tão corriqueiro, já perde um pouco do brilho antes mesmo de chegar. Poderia ser dia do preá, dia de se comer bolo de banana, dia dos portadores da quase finada Síndrome de Asperger...

Só que se trata do dia Nacional da Psoríase.

Você sabe o que é Psoríase? Não? Então recorra ao Google, pois não estou aqui para dizer o que a Psoríase é ou não é, coisa que muitos podem fazer com bem mais propriedade e respaldo do que eu. Vim aqui falar disto, mas, em verdade, de outras coisas.

Sempre flertei ou vivi com a diferença. Antes de tudo, por agir e, em certo aspecto, ser diferente dos outros ao meu redor. Também, já que o tema começou com doenças, convivi desde cedo com portadores de doenças congênitas ou incuráveis e vivenciei, em parte, o sofrimento e a dor que a falta de perspectiva e, principalmente, o isolamento advindo do preconceito trazem.

Agora, sem pudor algum, utilizarei-me de um argumento de autoridade, por mais naturalmente falacioso que eles sejam: não é fácil ser o outro, o diferente, a porca em meio aos parafusos. Como diria uma passagem do recente The Expendables, "It ain't easy being green.".

E considerem que não tenho doença qualquer que me segregue dos demais. Em meu caso, é uma questão comportamental. Porém, insisto no ponto: será, senhores, que não conseguiremos vencer nossa imaturidade a tempo, antes que nosso senso de exclusão e exclusividade nos segregue a ponto de nos destruirmos?

É sabido que somos naturalmente segregários daqueles que nos são diferentes e gregários àqueles que nos são semelhantes. Isto era necessário em tempos de muito maiores dificuldades práticas, que nossa presente tecnologia tem dirimido. Ainda assim, somos saguis em um carrinho de rolimã que desce ladeira abaixo: temos tecnologia muito mais avançada e letal do que nossa maturidade neuro-emocional nos permite lidar com segurança e prudência e, não fosse isto pouco, nossa fisiologia é a mesma desde antes da última glaciação.

Isso explica, por exemplo, bombas atômicas e cerca de 50% dos cientistas do mundo trabalhando para a indústria de armas, ou seja, para nossa própria destruição e/ou coerção.

Tecnologia demais para maturidade de menos explica muitos paradoxos da nossa contemporaniedade, mas estou desviando-me do ponto que defendo. É iminente que abandonemos nosso preconceito sistêmico contra o diferente em prol da boa convivência em um mundo cada vez mais abarrotado de gente.

Não temos mais hoje a alegria de podermos ir a um local verdadeiramente vazio. Isto está ficando muito raro e, com os apartamentos e elevadores cheios de estranhos que, principalmente nas metrópoles, insistimos em chamar de vizinhos, o não exercício de nossa civilidade e senso de identificação nos afasta, quando não nos causa problemas.

Sejamos honestos: o ser humano é bem problemático. Quase tudo o que construímos de real valor para o engrandecimento de nossa civilização foi feito através de esforços coletivos. Salvo raras exceções, o ser humano mostra-se fraco em sua individualidade. Não que isso implique que não tenhamos demonstrações de fibra e força quando sozinhos, mas essa discussão fica para outro momento.

A regra é que sim, precisamos uns dos outros para nos mantermos emocionalmente estáveis, para construirmos nossas vidas e podermos mergulhar no vazio da morte com um mínimo de dignidade e senso de alguma satisfação em se ter vivido. Aos que por um acaso venham a contestar algo que me parece tão evidente, peço que me indiquem uma criança que tenha trocado as próprias fraldas.

É, gente. Nossos frágeis corpos compostos majoritariamente de tecidos moles não são grande coisa e nossas mentes... essas são tão incoerentes. Rima pobre, mas até que devida.

Dirão, então: "mas nós nos ajudamos! O ser humano é gregário quando convém e nisto mantém-se!"

Concordo. Advogo aqui, então, para que sejamos gregários quando não nos convém. Ou seja, para que não queiramos, desejemos, aplaudamos e louvemos apenas os que consideramos dignos por afinidade. O justo aquiesce os méritos de seu inimigo.

Mas o que diabos isso tudo tem a ver com o dia Nacional da Psoríase?

Porque, gente, toda vez que você faz uma cara de espanto ou desprezo para alguém que a possui, ou ainda para uma menina que resolveu pintar os cabelos de verde ou para um cara que já passou dos vinte e sete mas ainda usa bonés, vocês estão erguendo muros e derrubando pontes.

E este é o caminho mais curto para uma humanidade cada vez mais apática, isolada e indiferente. O conceito de "homem-massa" de Ortega y Gasset revela-se com assustadora pertinência. Não é um mundo assim que eu gostaria de deixar para meus filhos, isto é, se eu tiver a sorte de tê-los.

É da nossa incapacidade de conviver e, principalmente, aprender com o outro que surge o preconceito. Do preconceito, tantas posturas e sentimentos negativos brotam. Essa colheita maldita nos leva a guerras, grupos de extermínio, gulags, Guantanamos, Nanquins, Holocaustos e o que mais as nossas imaturas mentes possam inventar no que concerne o mal e a pusilanimidade.

Ah, mas eu só estou falando dos exageros que nós, homens comuns, não cometemos, não? Afinal, não somos assassinos.

E o que você acha, meu amigo, que está fazendo quando chama um homem maltrapilho e que dorme na rua de mendigo? Falta de adjetivo melhor ou preguiça de dizer "morador de rua"?

Ah, mas é só um mendigo.

Lembremos que existe um nominativo curto, gregário e bem adaptado a qualquer ser humano que você encontre e ache esquisito, sujo, ameaçador ou bizarro:

Pessoa.

Pois é, como você. Que tem problemas e alegrias, carrega o mesmo peso do estar vivo e consciente, sente as mesmas necessidades fisiológicas e vai acabar debaixo da terra também, se tiver sorte de conseguir pagar ou obter uma vaga em um cemitério público.

Perdemos tempo precioso buscando e nos focando no que temos de diferente dos outros, inutilizando esta alteridade ao invés de transformá-la em aprendizado sobre o novo. Sob a égide do que não é interessante, nos abstemos de desenvolver nossos conhecimentos e aprendermos muito, muito mais.

Ou será que diabos alguém aqui acha que aprendemos algo que com aquilo que nos é familiar e conhecido? Aprendemos graças ao desconhecimento, desconhecimento é sinônimo daquilo que ainda nos é obscuro e, sim, devemos nosso crescimento à alteridade!

Como dizem por aí, "a maioria das pessoas prefere ser destruída pelo elogio do que salva pela crítica." Sou testemunha do quão fortes e verdadeiras são essas palavras e minha namorada, que muito me critica e mostra coisas que eu sequer via em mim, lembrando que ela o faz com tanta propriedade justamente por ser diferente, é uma pessoa que me faz crescer absurdamente graças ao que falei acima: não há crescimento sem o desconhecido, sem alteridade.

Esta mesma alteridade que insistimos em afastar por medo.

Este medo que nos paralisa e permite que um filósofo contemporâneo possa nos chamar de gado pensante e estar certo.

Ah, mas eu sou um homem sábio, isento e nobre, estando aqui dando uma lição de moral nos poucos gatos-pingados que lêem este blog, não é?

Não, eu já fui um filho da puta que via o lixeiro do meu prédio pelo olho mágico e dizia para a Nísia: não é ninguém, é só o lixeiro.

Eu já fui um filho da puta que dispensou duas mulheres maravilhosas para mim só porque elas não tinham a quantidade de características desejáveis e semelhantes que eu achava necessárias; porque eu era idiota demais para não perceber o quanto poderia aprender com elas.

Foi bom passar uns anos namorando o maldito espelho.

Hoje, posso dizer que melhorei, mas ainda erro seriamente vez ou outra. Só que, chega de falar de mim, voltemos ao ponto:

Nossa dificuldade imanente em convivermos, e lembrem que convivência não é tolerância, com o diferente vai nos empurrar para dois caminhos prováveis: apatia geral ou conflito. Saberemos quando a população aumentar a ponto de simplesmente não pudermos sequer fingir que podemos nos ignorar.

Apesar de tanta negatividade, eu acredito na espécie. Quero crer que, um dia, as Ciências Sociais dirão que o conceito de "homem-invisível e/ou homem-função" não serão mais necessários, assim como espero que um dia o Ortega y Gasset não precise mais estar certo.

Portanto, finalizo estes já longos desabafo e teorização da seguinte maneira:

Se você não quer namorar alguém porque o acha esquisito demais para você sem sequer conhecê-lo.

Se você se revolta com a realidade porque o seu atual parceiro/a não é como você queria, e talvez por isso até fantasie com alguém mais adequado, quando não vai às vias-de-fato e o/a trai.

Se você se satisfaz em se referir a um desconhecido apenas pelo nome que designa sua função ou nicho social.

Se você torce o nariz porque o cara que passou ao seu lado fede ou se veste mal de acordo com o que você acha certo e bonito no mundo.

Se alguém discorda de você e por isso você o deseja queimando no inferno só pela discórdia, sem considerar a essência da opinião.

Se você prefere enfiar sua cabeça em um buraco, rodeando-se de gente que diz que és lindo/a e que está tudo perfeito contigo.

Se você acha que já há gente demais no mundo e que, por isso, um a menos não vai fazer diferença.

Não seja mais um filho da puta.

Este foi um texto de um ex-filho da puta lato sensu e que agora, a muito custo, faz o possível para ser um filho da puta strictu sensu. Eu me tornei uma pessoa menos odiosa e odiada, você também pode. Ambos temos 10 dedos, ambos sofremos e choramos, ambos sorrimos: ambos podemos pois ambos somos Homo sapiens sapiens.

Ninguém disse que será fácil, mas quando nascemos, já optamos invonluntariamente pelo desconforto. Agora, só voltando aos úteros de nossas mães, coisa que é estritamente impossível e, segundo a psicanálise, procuramos em nossas parcerias afetivas.

Vamos à luta, mas sem armas, hm?


P.S. Eu namoro uma pessoa que por um acaso tem psoríase e não tenho nenhuma vergonha dela. Não namoro uma psoriática, sequer hoje acho que namoro uma mulher ou uma natalense, nordestina ou indie. Repito: namoro uma pessoa, um ser humano. Ser este do qual me orgulho e cujos defeitos eu assumo.

Gosto muito da pessoa que ela é.

Quem sabe se enxergarmos mais pessoas e menos adjetivos, talvez vivamos em um lugar melhor.

domingo, 24 de outubro de 2010

Desastre em potencial

Salve Herbert.


Os Paralamas do Sucesso - 220 Desencapado


eu sei que já não importa
tudo que eu venha a me esquecer
se for por você, amor
fique certa
fiz, farei, faço o que puder fazer
220 desencapado
sei que sou um desastre em potencial
de mãos na cintura, você me pergunta
se vai ficar mais alto o meu baixo astral
sei que são motivos para ainda estar vivo
sonhar, seguir em busca da emoção
sem que eu sinta tanto desequilíbrio
e prossiga na paz, os dois pés no chão
no entanto, eu tento e já não me importa
a busca de outra forma de proceder
se for por você amor
fique certa
fiz, farei faço o que eu puder fazer
se você tá descoberta de corpo
te peço que ouça tudo que eu te digo
assim, dessa vez, não vou me fazer de morto
vou te dar o porto de um ombro amigo.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Staring at the Sea

The total number of days between Tuesday, February 2nd, 2010 and Thursday, October 21st, 2010 is 261 days.




=*

=)

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Cowboy Bebop - Knocking on Heaven's Door

ARE YOU LIVING IN THE REAL WORLD?ARE YOU LIVING IN THE REAL WORLD?ARE YOU LIVING IN THE REAL WORLD?ARE YOU LIVING IN THE REAL WORLD?ARE YOU LIVING IN THE REAL WORLD?ARE YOU LIVING IN THE REAL WORLD?ARE YOU LIVING IN THE REAL WORLD?ARE YOU LIVING IN THE REAL WORLD?ARE YOU LIVING IN THE REAL WORLD?ARE YOU LIVING IN THE REAL WORLD?ARE YOU LIVING IN THE REAL WORLD?ARE YOU LIVING IN THE REAL WORLD?ARE YOU LIVING IN THE REAL WORLD?ARE YOU LIVING IN THE REAL WORLD?ARE YOU LIVING IN THE REAL WORLD?ARE YOU LIVING IN THE REAL WORLD?ARE YOU LIVING IN THE REAL WORLD?ARE YOU LIVING IN THE REAL WORLD?ARE YOU LIVING IN THE REAL WORLD?ARE YOU LIVING IN THE REAL WORLD?ARE YOU LIVING IN THE REAL WORLD?ARE YOU LIVING IN THE REAL WORLD?ARE YOU LIVING IN THE REAL WORLD?ARE YOU LIVING IN THE REAL WORLD?ARE YOU LIVING IN THE REAL WORLD?ARE YOU LIVING IN THE REAL WORLD?

Marionete

Hoje, caminhava e encontrei um pedaço de papel no chão, assinado por um tal de Severino. O cara deve ser maluco, pois o texto é curto, truncado e fala sobre uma viagem à Lua que não saiu da cabeça dele. Louco ou não, proporcionou momentos engraçados.

A tarde foi boa: as pessoas passavam e aquiesciam meus cabelos verdes. Algumas espantavam-se, outras sorriam em aprovação. O fato, porém, é que a grande vantagem de se ter cabelos verdes e olhos azuis é que eu me tornei objeto de adoração sexual por, digamos, 80% das mulheres com as quais esbarro.

Ah, eu não me apresentei: meu nome é Orwin Gladefall e, devo confessar, pertenço a um plano de realidade alternativo. Lá de onde venho, as pessoas chamam a região aonde meu povo mora de Naroom. Para ser mais didático, o nome de todo o meu mundo originário é estranho: Terras Lunares.

Achei engraçada essa oportuna e inadvertida menção à Lua no manuscrito do tal Severino. Curioso... a Lua da qual venho é muito mais bonita do que a daqui: enquanto as Terras da Lua são cheias de vida, a Lua deste planeta chamado Terra é estéril e, não fosse pelo brilho do Sol local, nem luminosidade teria.

Ah, convenhamos: eu gosto de quando ela está cheia, apesar de tudo. Por sinal, hoje está rechonchuda e cheia, ou ao menos aparenta.

No mais, tenho pena do corpo que ocupo: ele pensa ter vida própria, outorga-se um nome e até mesmo fala com orgulho do nome dos seus ancestrais. Ok, nós fazemos isso nas Terras da Lua também, mas não há nenhuma consciência etérea ocupando nossos corpos enquanto nós bradamos nossa liberdade!

Que tolo é o Marcelo, que pensa ser livre e, quando vislumbra os grilhões, se afoga em um prazer qualquer.

Meu nome é Orwin Gladefall, Marcelo Melo nada sabe. Ele é meu, eu existo. Existir é pensar, ele acredita que pensa. Minha missão aqui logo acabará e, ao voltar para Naroom, ele recuperará a própria autonomia.

Não que ele tenha feito grandes coisas com ela, but anyway....estou até escrevendo no blog dele, assim ficará registrada minha passagem :D


Abraços a todos que acreditam que são,
Orwin

Half-moon, Half-man.

The Everlasting Gaze - The Smashing Pumpkins


Você já foi à Lua? Eu já fui, e quase que me lasco na reentrada: é um chacoalhar que só quem já foi posto dentro de um liquidificador em movimento pode atestar. Você já foi posto em um liquidificador? Eu já: não foi bonito.

Ainda estou esperando minha cabeça parar de rodar, por sinal.

Meu nome é Severino e minha severidade não nasceu comigo: o cartório, criatura sem rosto que sabe antes de você qual será seu nome e o registra em um papel, peso leve que carregarás pela vida inteira, poderia ter batizado-me de Florisbelo e, ainda assim, eu seria Severino.

Porque, minha gente, quem nos dá Severidade é a vida e esta, pequenos sonhadores, não fecha para o almoço. Mas, lembremos que, mesmo nem tudo ser flores, o mesmo aplica-se aos horrores.

E eu, para não perder o fio da meada, falava da Lua e dos liquidificadores rodopiantes. Disse que meu nome é Severino e que o senhor cartório é quem escolhe mesmo o nome das pessoas: quem duvidar, tente registrar seu filho como Esprafegundo e verá.

Quando eu resolvi viajar à Lua, lembro-me bem, o fiz por tédio. Conhecer a Lua eu meio que já conhecia, sabe? Aquela sensação de ser cinco e ao mesmo tempo ser apenas um, enganando os bobos que te vêem de fora e acham que aquela variação é outra-coisa que não o brilho do sol.

Quando viajei à Lua, lembro-me da engenhoca que construí com fragmentos de sonhos que então já eram perdidos. Não bastasse o improviso, aquele negócio balançava demais. Tinha a forma de uma máquina remendada saída de um filme do início século passado. Quanto mais eu tentava imaginá-la, mais estranha se constituía. Fico pensando se o problema estava na escolha de fragmentos errados ou se, no fundo, o erro estava em mim e em todos os meus devaneios agridocemente imparciais.

Recordo-me que, pior que o decolar e seu espetáculo de chamas e ruptura, foi a reentrada. Novamente, não canso de repetir-me: o voltar à Terra pareceu-me mais penoso que qualquer turbulência.

Ah, aonde estava, mesmo? Para que estou escrevendo isso?

Sim, sim. A Lua...areia branca, limpa e fina. O Sol, onipotente, espelhando minha imagem grão-grão. Do resto, nada sei. Pouco sei, mas voltei...

Lembro-me do brilho solar e da areia branca e fina...

Mas porque estou escrevendo isto, mesmo?


-Retirado do diário de Severino, o profeta louco.
Circa 1830







sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Filhos de Gaia

Sparks, essa é para você.


Garou


Sou contraditório
Sou repositório de bem e mal
Não sou neo-liberal
Nem eco-chato-ambiental
Não gosto de carnaval
Acho o mundo desigual
Falo demais sobre mim
Inclusive nesta poesia
Também já tive afasia
Enquanto não vem a neoplasia
Escrevo palavras rimadas
Nem sempre centradas
Eu sei

Nunca me prometeram ser rei
Ao contrário de você
Mas, existe um quê de nobreza
Quando estou ao teu lado
E a imensa, profunda torpeza
Deste pequeno mundo-lago
Seca, tornando-se sal
Antes que chegue o Natal
Quero que saibas que há alegria
Nesta relação complicada
E desigual

Pois o mundo é afasia
E também serenidade
Basta olhar nos teus olhos
Em um dia sem tempestade
Por isso, também és contradição
Este é o cerne de nossa condição
Metamorfos de uma guerra perdida
Contra o firmamento
Buscando felicidade
E fugindo do sofrimento

sábado, 2 de outubro de 2010

150

- Dona Tereza!
- Ney Lopes, meu cliente antigo, como vai?
- Tudo bem; como vai seu Paiva?
- Morreu...
- Ah...Dona Tereza: vote no meu filho?
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E ainda ganhou 150 reais nesta brincadeira. Vão....ah, esquece.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Being Proud

Hoje não é dia de orgulho-próprio.


You Did It


Você falou
Que o medo pesou
E que não sabia se daria
Nem se conseguiria
Contar o que restou

Eu gostaria
Que você entendesse
Que nem tudo na vida é vitória, derrota
Ou interesse

E veja só
Como o mundo engana
O que era temor
Hoje é bacana

Sei que é difícil
Crer no melhor
E isto nos salva
De algo ainda pior

Você plantou
E agora colheu
Não sei quem te deu
Mas sei que é teu

Essa alegria
Que te faz diferente
Mostra alguém presente
E andando para a frente

Estou feliz
Porque estás também
Nessa vida não é só o que se quer
Mas sim, o que se tem

Cada conquista
Todo plano em vista
É a maneira de me lembrares
"Não desista"

Deve haver
Algo que satisfaça
Que não seja triste
E que não precise ter graça

Creio que sei
Deste modelo ideal
Que não é fantástico
Ou banal

Falo, então
De tanta vontade
Seja de ficarmos juntos
Ou de terminar a faculdade

Isso, sim
É o princípio do fim
Pois para cada começo
Algo tem que morrer

Que não sejamos nós
Que fiquemos a sós
E que da felicidade
Sejas porta-voz

sábado, 25 de setembro de 2010

Requisição D-L324, Protocolo 1.230, Terceira Ordem

Exaltados membros da Casta dos Vin-Huei,


Peço-lhes, com as devidas humildade e deferência, que encerrem prematuramente minha missão de observação no planeta 948-AM35, conhecido pelos habitantes do país em que me encontro como Terra.

As razões de tal pedido serão melhor explicadas após meu esperado retorno às luzes e calmaria de Selen, pois fazê-las no momento me é por demais penoso. Porém, devo confessar que perdi o senso de propósito da incumbência a mim concedida, visto que as anotações e registros feitos neste planeta não revelam algo de particularmente promissor, em termos de maturidade neuro-fisiológica que culminará em maturidades social e afetiva, em menos de cinco mil anos locais, o que corresponde a cerca de trinta translações do Orbe da Transcendência.

Portanto, considerando que sou impedido por função para intrometer-me nos assuntos não mais que mundanos da sociedade dos seres daqui, vejo-me aflito ante a tanta confusão, barbaridade, individualismo, indiferença e intolerância.

Ciente do fato de que o abandono precoce de minha missão poderá acarretar em danos à minha pessoa, ainda assim protocolo este pedido, pois o fardo que o estágio civilizatório desta espécie me impõe é pesado demais.


Como assim foi, assim será.
Que o Orbe circunde.
Jino Elenciar Lesto

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

To Sink or not to Sing

Lifeboats


Você velou meu sono
E tanto abandono
As crianças na rua
Sua crítica crua

Nada disso me afeta hoje
Agora sou imóvel

Você me protege da dor
E me abana no calor
Sendo quase como for
Você me apóia

E é minha bóia
Nesse mar de emoções
E tubarões

Nós vamos à praia
Você nem gosta de saia
Eu não me sinto mal
Em não ser igual

Não preciso disso
Essa diferença
Se mantém na crença
De nosso compromisso

Falo dessas coisas
Como o som no espaço
Entre atrito e cansaço
Eu me propago

E no seu afago
Torno-me um brado
Um rugido cortado
O fim da solidão

Nessa união

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Full Circle?

John Rambo, cansado de guerra, sonhou com seu antigo superior e amigo, Coronel Samuel Trautman. John não aguentava mais o ostracismo auto-imposto nas selvas do sudeste asiático, tampouco a matança contínua que praticou e que, em sua visão, não mudou a essência de como as coisas ocorrem. Portanto, tinha sorte de ainda estar vivo e contemplava com amargura o fato de ter sido um peão, mesmo que dos bons, nos jogos de poder que envolvem conflitos armados.

Vivia então, como barqueiro e apanhador de serpentes em algum lugar, salvo engano, entre Burma e a Tailândia. Nada agradável para o homem que saiu do Texas ainda jovem para tornar-se um boina-verde e, após três passagens pelo Vietnam em guerra, ter tocado fogo em uma cidade de interior, retornado ao Vietnam para resgatar prisioneiros-de-guerra estadunidenses e, como se não fosse pouco, ter sido novamente chamado para ajudar a guerrilha dos Mujahideen afegã que, ironicamente, repeliria o domínio soviético no país e empossaria os fundamentalistas do Talebã.

Interessante em observar como os E.U.A. ajudam em um momento para atacarem uns anos mais tarde.

John sonha.

E, como John, que terminou seus afazeres e retornou para o rancho de sua família no Texas, penso estar encaminhando-me para meu ponto de partida, porém sem ser o mesmo, como dizia Nietzche em seu eterno retorno, de quem era quando comecei. Já dizia o Emicida que, "...quando tudo parece confuso, é preciso voltar ao começo."

E, mesmo andando-se em círculos, o velho Chico Science já corroborava a idéia de que com um passo à frente, não se está mais no mesmo lugar. Apenas um aparentemente ordinário passo. Aí lembro-me de Confúcio, que dizia que "a viagem de mil milhas começa com um passo."

Fechar um ciclo pode ser bom. Ademais, só o caminhar já representa algo significativo.

Esses dias têm sido de caminhadas e crescimento mas, desta vez, não mais pelas trilhas espinhosas do medo e da insegurança exagerada. Hoje, há uma trilha de areia fofa e confortável que levará, creio eu, à grama aconchegante do Éden.

Enquanto não chegamos à grama...


Full Moon, Full Circle (A Possible Paradise)


Hoje acordei pensando
Que o mundo pode estar acabando
Mas posso postergar esta morte
Com alguém querida por perto
E alguma sorte

Hoje quis ter alguém por perto
E esse teu jeito discreto
Não deixou que ninguém notasse
Que mesmo que meu mundo acabasse
Não deixarias que ninguém escutasse

Eessa fraqueza que nos vêm
Quando compartilhada, diminui
E ao ser de mais ninguém
Tudo piora, nada flui

Mas estamos aqui, caminhando
Eu diria sorrindo e cantando
Mas a vida é real demais
O que não impede
Que estejamos bem
Com dinheiro ou sem
No carro ou no trem

O mundo é real demais
Assim como você
E essa nova e desejada paz
Não precisamos de TV
Para vivermos um romance
Real, ao nosso alcance

Que nos ajude a viver
Nos faça felizes
Para que possamos crescer
Abandonar a guerra
E não mais sobreviver




domingo, 19 de setembro de 2010

Oba, Charles!

Não, dessa vez não é sobre o Charlie Brown e a miséria existencial.

Fico pensando se essa rima é meramente proposital :)

De qualquer maneira, o Charles do qual falo é o Anjo 45, aquele cantado pelo Jorge Ben. Muita felicidade ao achar um vídeo de 1987 dos Paralamas, até então inédito para mim. Lembranças de um Brasil que, felizmente, já foi. Assimilações de coisas que não sabia sobre uma de minhas bandas preferidas.

Aí, sozinho em um quarto escuro em um domingo à noite, eu penso que, aparentemente, a Sociedade Onírica compôs sua primeira música há mais ou menos três horas atrás. Sinto, ou talvez quero sentir, que esse post representa o início de um processo muito positivo em minha afetividade, processo este de reconexão com a arte através de uma banda de rock. Como não posso nem quero, ao menos por enquanto, voltar ao Canto dell' Arte, reestabeleço meu contato e sacio um desejo muito antigo.

Rock and Roll.

E o início desse processo também me lembra do fim de outro. Apesar de estar tranquilo, não posso dizer que estou satisfeito com o que houve. Eu era feliz, mas os momentos alegres começaram a tornar-se tão escarços e, os de turbação, tão recorrentes, que não vi outra saída senão desligar os aparelhos e deixar o paciente descansar em paz.

Resta-me agora também descansar quanto a isto, vivendo e absorvendo meu luto. Para terminar, dois trechos transcritos de "Os Paralamas do Sucesso - V, o Vídeo" de 1987 e do documentário da A&E "Nossa Gente: Herbert Vianna", de 2006.

Seguem, em ordem de citação:


"Eu faço o que eu quero, ganho para...ganho legal para viver e o que mais gosto mesmo é música, tocar. É isso mesmo...acho que...que...sou um felizardo."


João Barone, circa 1987


"...e a Lucy foi a grande âncora do Herbert na vida...porque ela foi pegá-lo no fundo de um poço. Ele estava sofrido por uma relação anterior, ele estava sozinho. Surgiu a Lucy e isso foi um achado para ele, (sic) e ele embarcou nesse amor e é apaixonado por ela até hoje com grande intensidade."


Autor não identificado, mas presente no documentário da A&E. Provavelmente trata-se de Paulo Niemeyer, médico que integrou a equipe que tratou do Herbert após o acidente aéreo.



Esses depoimentos me traduzem, não quero falar por mim mesmo: minhas palavras estão secas e repetitivas. Estou, a exemplo, no fundo de um poço. Ainda assim, paradoxalmente aliviado.

sábado, 18 de setembro de 2010

Eu fico besta...

Puto, besta, incrédulo, tudo no mesmo dia.


Nunca tinha visto este vídeo e me assombrei com o conteúdo da mensagem.

http://www.youtube.com/watch?v=lvaOylTzLhA

Escrevi uma letra que fala um pouco sobre o que o Renato comentou, antes de assistir ao vídeo. Essas coincidências é que me assustam.

Ponto Final


Difícil é descobrir
Que quase sempre é mais fácil
Mentir ou omitir
E vencer pelo cansaço

É triste conceber
Que o sonho não é isso
Nosso mundo apressado
Destesta compromisso

E o grito é um meio
De se chegar ao fim
Se esquecendo um pouco
Do que é ruim

Mas você pensa
Que existe licensa
Para o coração de alguém
E esquece que sempre
Sentimos medo de ir
Para o universo e além

Estamos tentando
Chegar a um termo
Que não nos machuque demais
E nos dê alguma paz

Você e eu, somos humanos demais
Ontem fui eu, agora tanto faz
Amanhã será outro
O mar toma e traz

Resta esperar
Ver o tempo passar
E recomeçar
Caso seja necessário

Mas, caso contrário
Que bom, menos mal
Ainda gosto de ti
Ponto final

Eu fico puto

É um povo que não se assume, é meu formalismo que jogo fora, é uma sexualidade que oscila, gente que concorda para agradar, verdades saídas do forno, minha dificuldade em ver o óbvio, gente que parece que se aproximou para se aproveitar de alguma informação que eu tinha, é uma mulher sorrindo em um dia e com a cara "fechada" no outro, disse-me-disse de futuras demissões e opções sexuais, é não receber o que se dá, um tempo que não se recupera, uma saudade de um relacionamento sem jeito, saudade de relacionamentos com jeito, é ter sido imaturo e por isso estar sentindo saudade, é saber que teus velhos amigos de condomínio estão se reunindo sem te chamar, é querer cantar e não conseguir uma banda, é se frustrar e ter que escrever em um blog, é colher o que plantou, é catar as moedas, juntar o que restou, é ser reclamão, é sentir a solidão.

Caralho, nós somos imaturos e complicados demais and i'm part of both cure and disease.

Não é de me espantar que Nietzche achava que o macaco era simpático demais para ter algum parentesco conosco. Ô raça amaldiçoada: filhos únicos e preferidos do Deus judaico-cristão...claro.

Eu fico puto.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Singing for the lousy morning

Ahem...


You are my sunshine, my only sunshine
You make me happy when skies are gray
You'll never know, dear, how much i love you

The other night dear, as I lay sleeping
I dreamed I held you in my arms
But when I awoke, dear, I was mistaken
So I hung my head and I cried.

I'll always love you and make you happy,
If you will only say the same.
But if you leave me and love another,
You'll regret it all some day

You told me once, dear, you really loved me
And no one else could come between.
But not you've left me and love another;
You have shattered all of my dreams

In all my dreams, dear, you seem to leave me
When I awake my poor heart pains.
So when you come back and make me happy
I'll forgive you dear, I'll take all the blame.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Heaven Knows I'm...what?

Sorte


Que sorte a minha
Relembrei de uma velha idade
Que há tempos não tinha

Que sorte a minha
Poderia nem ter acordado
Mas abri os olhos
Para ser imperfeito

Que sorte a minha
Sou errado, derrapo, escapo
Mas aprendo um pouco

Demagogo, arrogante, surdo
Meio quase-tudo
Mas, ainda não mudo
Daí as impressões

E no mais, só razões
Tantas que me perco
E quando não me acho, espero
Esperando, esqueço o assunto

Ah, nem lembro

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Mais ou Menos e o Silêncio Falante

Eu tenho uma conhecida, cujo contato perdemos há tempos, que escreve muito bem em um blog obscuro e fechado para comentários. Aquilo sim, é poesia prosaica, por mais antagônico que isso pareça. Pena que nem possa dizer isso à ela.

Com o texto da...putz, esqueci o nome da menina (falta de contato dá nisso: ninguém é insubstituível e o tempo esconde o que não é presente), começo este post.

"Ao abrir a porta eu percebo que não sou nada nas mãos de outros homens, que minha fragilidade me reduz a vítima e minha força se reduz a nada quando eu menos espero. Minha felicidade é comprada em farmácias, meu corpo caminha em tarjas vermelhas, meu sono só vem se a vida deixar."


Extraído do Blog "Silence". (Para link, olhem nos meus blogs favoritos)



Acho que esse texto é fantástico para toda e qualquer pessoa que se acha independente demais e nega a sua inerente fragilidade advinda da própria situação do existir e de ser Homo sapiens sapiens.

Como a vida mostra, há silêncios que valem por muitas palavras. Quanto a isto, contenho-me.

Agora, quanto à vida mais ou menos, isso já é outra questão. A maioria das pessoas passa a vida com o que dá, não com o que quer. Devemos aprender a jogar com as cartas que nos vêm, eu concordo, mas quase sempre podemos reembaralhar o maço de cartas se acharmos que a sequência está desfavorável demais.

E já que há zilhões de coisas nas quais eu não posso embaralhar as cartas, estou insistentemente tentando fazê-lo dentro das possibilidades: infelizmente, isto tem sido muito mais lento do que deveria.

Estou desesperadamente tentando me reaproximar de todos os sonhos que tive, de todos os desejos tomados pelas circunstâncias. Não posso afastar-me da realidade, porém. De qualquer maneira, não vou deixar-me entregar e vou lutar pelos meus sonhos, pelo que acredito ser certo, por um mundo um pouco melhor à partir de mim e por um mês contínuo, no mínimo, de felicidade.

Nem que eu tenha que tirar férias e sumir do mapa.

Agora, o inteligível vai misturar-se com o sensível.


Cages


Não sei o que você sabe
Nem a parte que me cabe
Na tua vida alentada
E minha busca desesperada

Por um mês inteiro de paz
Sem opressão ou guerra
Pois o meu dia se encerra
Em outra incerteza

Nós temos diferenças
E todas essas crenças
Não nos aproximam
Pensamos ser corretos
Mas estamos tão incertos

Quanto qualquer um

Pois o mundo não é um
Não é meu ou seu
Não é do Cristo, do fariseu
Não é do hamster que crio

Que tenta tapar meu vazio
Mas ele só gira e escala
Minha felicidade, senzala
Esperando alforria

E não é a luz do dia
Que liberta, traz alívio
Outra rotina de ônibus
Estudos e leitura

E toda nossa lisura
Cai perante a intimidade
Mas sua identidade
É mais feia do que gostaria

Ainda assim, eu persisto
Esperando um milagre
Como o hamster cativo
Que almeja o fim da grade

Estou tão cansado
De não viver o que espero
O que quis, o que preciso
Mais ou menos, vou escapando

Seguindo e relutando
Pensando na espera
Que promete algo melhor
Mas me vem algo pior
Do que foi almejado

Meu compasso é pontuado
Eu cuspo verdades
Demagogias, vaidades
Mesmo sem querer

Erro por dizer
Se não ajo, sinto culpa
Agindo, machuco
Sofrendo, desculpo

Temos hamsters, temos tempo.
Não temos tempo, mas fingimos
Fugimos e oprimimos
Que fique tudo bem

E se houver um Deus por aí
Que ele ouça o que disse
Perdoe a tolice
Também dizendo: tudo bem
Abençoando, amém


Hoje almocei dois Big Macs. Beijei-os, pois acho que será a última vez em que beijarei o afeto. Mas, hell, alguém se importa com o que comi no almoço?


P.S. Rebecca, that's for you. Rodents for the win, but i think that, sometimes, we are the ones inside the cages.



Orkut-Sensei?

"Furious activity is no substitute for understanding."
-Sorte do dia no Orkut.

Eu fico pensando...diga isso a meio-mundo. Não fossem imperativos morais que são quase impossíveis de se colocar em prática, Kant não seria um malhado. A diferença dele para Yeshua é que o Kant não prometeu salvação para ninguém, portanto não teve um desconto. Ainda assim, talvez precisemos de exemplos inacessíveis para guiar nossos esforços trôpegos e bêbados.

Talvez precisemos abandonar o que nos incomoda ou conviver em real paz e tranquilidade. Talvez não precisemos de porra nenhuma, mas agora não falo pelos outros e digo que preciso desse desabafo. Ela desconta em mim e eu, no blog. Será assim com um filho? Great.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O Evangelho dos Malditos

"That's not real life, isso é o que você escolheu para si."
-João Martins


"You have heard that it was said, 'An eye for an eye, and a tooth for a tooth.' But I tell you, do not resist an evil person. If someone strikes you on the right cheek, turn to him the other also"

"But I tell you who hear me: Love your enemies, do good to those who hate you, bless those who curse you, pray for those who mistreat you. If someone strikes you on one cheek, turn to him the other also. If someone takes your cloak, do not stop him from taking your tunic. Give to everyone who asks you, and if anyone takes what belongs to you, do not demand it back. Do to others as you would have them do to you."

- Yeshua of Nazareth




E dizem os escritos há muito considerados apócrifos e malditos, perdidos por séculos nas areias de um deserto sem nome, que as palavras acima ditas eram as de maior apelo e peso de tudo que foi dito e feito durante o tempo daquele que disseram ser filhos dos céus. Disse até, certo filósofo, que este imperativo moral criou um peso terrível sobre a humanidade e serviu de anátema para as barbáries posteriores.

E aí eu penso: como é difícil querer transformar algo negativo em algo positivo. Se me calo, aquiesço. Se brigo, acrescento mais negatividade. Dou a outra face, raramente com sucesso, na espera de que este seja o tão famigerado e salvador meio-termo. Não sei, pouco sei nesta vida, por mais que meu discurso possa aparentar o exato contrário.

O que fazer, Marcelo? Desistir? É isso? Sucumbir ante as dificuldades, sair pela porta dos fundos? É essa a atitude que homem que propôs-se ser grande deve ter? Brigar, maltratar, usar da força para abrir os olhos dos outros? É assim? Não posso conquistar qualquer grandeza ao esmagar os que estão ao meu redor pois, se eu o fizesse, não precisaria crescer um centímetro para sentir-me grande.

Mas como pode ser difícil, como. Tantas vezes foi, mas hoje, pontualmente, não. Ainda assim, temo o não poder viver de exceções. Porém, como diria uma velha carta de Magic: the Gathering:

"A ira é fugaz, o remorso, eterno."

Eu não sinto remorso, pois não fui colérico. Ainda assim, não alcancei o objetivo. Dizem que o amor é paciente e esperançoso.

Eu penso...quão? Serei capaz de ter as propriedades que o amor possui?

Será que ela aspira tanto a grandeza que deixou de olhar para o chão e ver a beleza das flores, dos insetos passeando, das pequenas e irrelevantes coisas? Que grandeza será esta? Frágil, osteopórica, talvez?

Não sei, nada sei.


sábado, 11 de setembro de 2010

Man Overboard!

It seems now that i'm a man overboard, tough i'm not in a mission. Also, i cannot tell for sure if people will miss me around. I like that song.

A ansiedade está me jogando para os lados, como um boneco, desde as sete da manhã.

Pills, Clonazepam, looking around, testing muscles, twitching muscles, A.L.S., death, fear, doubt, boredom, things to do, texts to read, standing still to check balance, hands seeming to close unwillingly, panic, hyperhidrosis, calm down, breathe, be cool, talk with your buddies, regain control, be around, be tough, gather the stuff. Panic at the streets of London, aching heart, shaking muscles, fear.

Fucking addicted to medicines, 4 Non Blondes, Bigger, Better, Faster, More! 4 Non Blondes.

Bigger, Better, Faster, More!

Fear; Overboard, damn. Chest aches.

Bigger, Better, Faster, More!

Só os loucos? Nah.

Ontem, mais cedo, eu lia sobre campos de concentração e pensava na morte e na tristeza. Estava triste, queria colocar denovo meu capacete e afundar-me de vez na jaca da guerra jogando Day of Defeat.

Daí veio a festa em Roberto: amigos próximos, coisas que gosto, gente fina, família feliz pela comemoração de 10 anos de um namoro. E pensar que hoje em dia, há namoros + casamentos que não chegam a isso. Emanuel, o irmão de Roberto, namorou sua atual esposa por 16 longos anos: parece mentira, mas não é. Dois casos raríssimos e na mesma família! Não consigo tirar esses fatos da cabeça.

Eu, que os desejo tanto.

Daí, tendo rido, conversado e recebido uma boa dose de carinho, identificação, conforto e afeto, eu mandei o Day of Defeat para a puta que o pariu. Depois da festa, não queria mais matar alguém para também tentar assassinar minha dor.

Há duas horas escuto a mesma música do Charlie Brown Jr. E sim, ela fez muito sentido depois da festa:

"Um homem quando está em paz não quer guerra com ninguém."
- Só os Loucos Sabem

Espero poder continuar em paz por tempo o suficiente para não sentir novamente a necessidade de expiar meus pecados com uma Browning .30 ou uma MG 42 na mão.

E dizem-me que o mundo é assim mesmo e que não há esperança para mim. Fico pensando se devo seguir as palavras do Velho Testamento ou simplesmente concordar com o senso-comum e perder quaisquer esperanças, pular de vez no Abismo.

Não, eu nunca fui de gostar do senso comum.

Contra Spem, Spero.


sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Será?

Acabei de terminar a leitura de "A Lista de Schindler: a verdadeira história.", de Mieczylaw Pemper. Apesar de seu sofrimento, o capítulo final do livro mostra um homem lúcido, engajado, justo e esperançoso.

Ele, naturalmente, se indaga sobre a que ponto a humanidade é capaz de chegar durante momentos de crise. Segundo ele, fato com o qual concordo, conhece-se o ser pelo seu comportamento nos momentos difíceis e que as crises geralmente o caráter do homem.

Como também falado no livro, porém com origem em uma prisioneira de Plászow, os momentos de crise tornaram bons homens santos e maus, demônios. Em suma, a dificuldade acentua e revela os traços íntimos das pessoas.

Ao acabar de ler este livro, que por sinal é muito bom, fiquei pensando se realmente tenho problemas. Há pouco vi um homem a quem falta uma perna caminhar, junto à filha, do que presumo ter sido a volta da escola.

Também me perguntei se eu tenho problemas.

Não me parece justo comparar as dores, pois apenas os que as portam têm propriedade para falar sobre o quão incômodas são. Não sei se posso anular a importância que minhas questões têm para mim apenas pelo fato de outras pessoas terem e estarem passando por situações piores, segundo o senso comum.

Acho que o senso comum equipara, mas não encerra a questão. Tenho, portanto, direito de mensurar meus problemas como pequenos ou grandes, mesmo que eles sejam ínfimos se comparados a tantos outros.

Mesmo esclarecida a questão, não consigo deixar de me perguntar se realmente tenho problemas e se, de fato, eu deveria ter me sentido tão infeliz durante tanto tempo de minha vida que, por um acaso, não mostrou circunstâncias muito diferentes das que vivo hoje. Me parece, deste modo, que a máxima zoroastrista de que o inferno e o céu estão na mente do homem é perfeitamente aplicável. Os espíritas até copiaram a idéia, inclusive.

Enfim, vejo agora que o problema fui eu, mas não me arrependo de tê-lo sido. Era o que sentia e acreditava na ocasião: não teria tornado minha vida mais miserável pelo mero propósito de vivenciar a dor e nela refestelar-me. Se o fiz ou ainda o faço, é por fraca fibra mental e por algum tipo de masoquismo ou transtorno subsconscientes.

Por último, ao lembrar-me de ontem à noite, percebo quanta guerra e conflito a espécie humana pratica almejando a paz. Desde o bate-boca até a bomba nuclear, parece-me que estamos quase sempre querendo alcançar a paz através do conflito.

É como se quiséssemos chegar a um número positivo através da sequencial adição de números negativos. O resultado nunca será alcançado.

Ainda assim, eu, como demasiado humano, o repito. Repito as condutas que percebo serem inadequadas e guerreio em busca de paz.

Contra spem spero. Esperança contra esperança ou, adaptando-se, esperança aonde não há esperança.

A Vida

Já dizia um velho ditado inglês..."A vida é uma professora severa, pois dá a prova primeiro e a aula depois."

Como não concordar?

Esse clima de tensão e competição que se formou não contribuiu em nada para aumentar o número de relacionamentos amorosos de boa qualidade.

- Flávio Gikovate

Bem, o velho Gikovate me parece certo...ao menos não estamos mais queimando pessoas em fogueiras...já é uma evolução para a nossa espécie imatura.

No mais, porque é que eu não consigo viver essa máxima influenciada pelo budismo?

"Tudo é dor e toda dor vem do desejo de não sentirmos dor."

- Renato Manfredini Jr.

Na Moral

Nunca pensei que o Cidade Negra fosse voltar, após quase dez anos, ao meu conjunto afetivo.


Na Moral

Há de se respeitar a minha moral
O meu visual
E tudo que eu digo
Pra alguém me escutar
Mesmo a tal cibernética

Ah, ah, ah, ah, e ser imortal
Não é natural
Eu não sou capacho
Eu sei os meus passos
Pra não vacilar

É que eu insisto transparecer
No que eu acredito,
Sem ressentimentos.
E há tanta gente pra convencer
E que sei que sentem

...

Estão precisando de amor
Estão precisando resolver
Estão precisando de carinho.

...

E ser um mortal
Não é mole, não
Desculpa, meu chapa
Mas é que eu preciso me desabafar.


Eu realmente precisava desabafar. Depois do vômito, vem o gosto ruim na boca. Ainda assim, a expulsão é necessária. A minha moral, o meu visual...lembro-me do U2 e sua música "Love is Blindness". Daí, vêm-me frases soltas:


Love is Blindess
Love is Sacrifice
Love is all this and many things more
And maybe, not a single word said above
Maybe, nothing can describe it
Maybe, love is nothing at all
By being nothing, it is whole and fulfilled


terça-feira, 7 de setembro de 2010

Sunshine

Rogério Oliveira de Oliveira, também conhecido como Rogério Flausino, também sabia: um dia feliz às vezes é muito raro.

Poesias felizes também.


Singularidade


Ainda estou descrente
Você me desarmou totalmente
Eu que pensava que te conhecia
Fiquei com cara de bobo ao ouvir

Uma frase que não sabia
E toda essa poesia
Não resume o meu espanto
Não sei se sorrio ou canto

A felicidade se esconde
Tanto, que às vezes nem sei onde
Mas aí ela aparece
E quando vem, é forte
Não se esquece

Ela se mostra em uma frase
No final de outra fase
Em uma camisa velha
Uma foto amarelada

Ela não tem idade
Habita todos os tempos
Mas é seleta nos momentos
Se faz presente quando quer

Hoje, na forma de mulher
Que você encarna
E quando quer, me desarma
Me deixando atordoado

Quase desconcertado
Para quem não tinha conserto
Já é um bom começo
Felicidade é assim

Insiste em ter fim
Para voltar sem avisar
E o tempo a disparar
Suas incógnitas precisas

Que me deixam drogado
Quase abestalhado
Pois já vivi muito
E ainda me surpreendo
Mas o que não entendo

É porque demorou tanto
Para te achar neste mundo
Procurei do raso ao profundo
E agora que nos achamos

Vamos viver o que há para nós
E, quando estivermos a sós
Não apague a luz
Pois seu sorriso me seduz

E tenho medo do escuro, também


Além disto, só o além
Que alguns nos prometeram
Como não vou pagar para ver
Vamos viver, vamos viver

domingo, 5 de setembro de 2010

Parabéns, Campeão!

Porque devo ser um sujeito bem-sucedido, não? Há um diabo de arma apontada para minha cabeça há muitos anos e, vez ou outra, ameaçam atirar.

A menos que eu seja bem-sucedido, claro.


Sucesso


Meu bem, me dei bem
Tenho um carro do ano
Muitos me conhecem
E também esquecem
Quando cometo um engano

Meu bem, consegui
Expiei o pecado
De ser outro coitado
Que não ligava
Nem era ligado

Hoje fui perdoado
Sigo o senso-comum
Tenho poder e status
Não sou mais um
Segui a cartilha
Saí da minha ilha

Sou bem sucedido
Lembro-me de quando era
Um fodido

Porque cantava, acreditava no amor
Não contava dinheiro, confiava demais
Dava terceiras chances, preferia a paz
Fazia coisas por fazer, filosofava
Não ligava para o que diziam
Nem sacaneava ninguém

E justamente por isso, não era alguém

Mas tudo mudou, olhe meu novo computador
Ele é moderno, assim como eu
As lojas vendem tudo que em mim morreu
Não existe nada que não seja comprável
Igualei as pessoas aos objetos, é perfeito!
Agora tudo é descartável

Meu bem, obrigado
Você me mostrou a luz
O sabor do dinheiro, o poder que seduz
Sou um homem mudado, obrigado
Até creio em Deus, agora
Ele abençoa meus atos e deu a Ferrari
Estacionada lá fora

Eu era ridículo
Tentava não julgar pelas roupas e acessórios
Mas hoje o conteúdo é só um par de brincos
Velhos e usados demais, eu quero conforto, idéia fixa e paz
Não quero nem preciso pensar por mim mesmo

Enquanto ganhar dinheiro e der satisfações
Ao que antes julgava serem ilusões
Estará tudo bem, meu bem
Muito obrigado, este mundo é fantástico
Espero que seu querer não seja como quase tudo:
De plástico

Sou um adulto, agora!
Minha infância morreu com o encanto
Escondido em seu canto


domingo, 29 de agosto de 2010

War

Essa é para um dos meus maiores amigos, Edison Melo.

Cuide-se, amigo velho de guerra....afinal, só os mortos viram e verão o final dela.

Saudades, cara.


http://www.easy-share.com/1912071761/Marcelo Melo - Sometimes You Can't Make It on Your Own (U2 Pseudo-Cover).wma

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Arithmetics

Afirmo hoje, munido de perigosa propriedade, que a adição do outro em nossas vidas implica na subtração do eu, mesmo que em caráter quase imperceptível. De fato, quanto menos perceptível é a subtração, mais prazerosa é a relação.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Helter Skelter

É, oscilo entre a magnanimidade de tentar ser mais compassivo, vosciferando máximas cristãs por aí, e as mágoa e descrença de mandar o mundo se foder.

Utilizando-me de uma música do Queen para isso, a propósito.

Eu só esqueci de mencionar o resto da estrofe da mesma "Under Pressure":



Insanity laughs under pressure we're cracking
Can't we give ourselves one more chance
Why can't we give love that one more chance?
Why can't we give love...?
give love give love give love give love give love give love give love give love...
'Cause love's such an old fashioned word
And love dares you to care for
The people on the edge of the night
And loves dares you to change our way of
Caring about ourselves
This is our last dance
This is our last dance
This is ourselves
Under pressure


Droga, Freddie: agora estou achando que você sabia ou intuía tudo e eu, ao contrário, é que não sei de nada. Obrigado, Farroukh.

This is about us

Os últimos dias flertaram com uma problemática que estava fermentando em minha mente.

O que é um amigo? Quando ele se torna um colega?

Então, eu acreditava que amigos seriam aquelas pessoas com as quais tivéssemos contato com um mínimo de frequência e que, por afinidade, nos quisessem por perto. Disto, laços e suporte mútuo derivariam.

Já quanto aos colegas, basicamente pessoas com as quais se tem afinidade, mas não mais convívio. O seu melhor amigo do passado pode se tornar um colega e, sabe-se lá, um estranho familiar, se vocês perdem o contato por muito tempo.

Quanto ao apoio mútuo...o pior é a demagogia dos que te elogiam e exaltam e, no momento da dor, esquecem de ti.

Já obtive ajuda de gente que não falava comigo há tempos, mas me socorreu em momentos de necessidade. Muito recentemente, uma pessoa que me achava admirável sequer ligou quando precisei. Essas coisas mostram que, assim como o ser humano, essas classificações são complexas.

No mais, dizem por aí que amor e apoio incondicionais, só dos teus pais: é bem possível que isso seja verdade. Familiares que não moram sob o mesmo teto e que pouco convivem também só costumam ser bonitos na fotografia. Há exceções: experimentei o oposto com meu irmão no Natal passado. Ah, não posso esquecer do primo Ivaldí: este sim é uma grande exceção.

No mais, aprendi a confiar e contar sempre apenas comigo, pois o ser humano pode ser fraco e antagônico e meus pais, estes que sempre estiveram lá, não ficarão aqui para sempre. Parafraseando o velho Valmar, frase dita há uns quatro anos:

"Marcelo, quando sua mãe morrer você terá que ser muito você."

É, meu velho. Sua frase é de uma pertinência assustadoramente concreta quando a necessidade se aproxima.

E quantas foram as vezes em que deixei alguém na mão? Algumas, imagino. Outras, pois não as lembro. Foda-se, espécie amaldiçoada.

"This is about us, this is our last dance.
This is ourselves under pressure"
- Queen

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Baseball, Charlie Brown...tudo legal?

Amanhã é dia da inauguração do campo. Irei sem pódium de chegada ou beijo de namorada. Eu sou um cara, só mais um cara.

Mas o tempo, o tempo não pára.

Amigos, só quando eles querem. Meus relicários e luvas me acompanham em uma procissão de lembranças: o tempo não pára.

Mas se você achar que estou derrotado...sorvo a seiva da minha solidão.



sábado, 7 de agosto de 2010

Like a Secret Smile

Mina,


Come to me and soothe my pain, ease my suffering
Hold me and, silently, say all that i need to hear
Which is the sound of your breathing

Say whatever, but hold me tight
If you cannot be my lover, be my mother
Only for tonight

Le Ciel

Por mais terápico que seja, é preciso levantar um pouco o meu queixo e enxergar o que não seja sofrimento. Meu ou dos outros, mas que não seja dor.

Este post é uma homenagem silenciosa aos também silenciosos e anônimos voluntários do CVV ao redor do Brasil. Eu já quis me matar, já carreguei o caixão de um suicida e, depois de quase convencido da inexistência de Deus, o valor da vida humana aumentou bastante para mim.

Isso, claro, não quer dizer que eu tenha deixado de tratá-la com o devido respeito durante todo o tempo. Há melhora, felizmente.

Você...aliás, você quem, acho que mal lêem isso...anyway, poucas são as pessoas que conhecem um voluntário do CVV. Aliás, alguém sabe aonde fica a sede do CVV aqui em Natal? Em uma rua escura e meio perigosa do centro da cidade. Longe de qualquer glamour, não é Petrópolis nem Ponta Negra. Por sinal, pelo que fui informado, calharam de montar um prostíbulo improvisado na frente da sede, bordel este que funciona nas ruínas, exato: ruínas, de uma casa colonial e há muito abandonada.

Alguém aqui tem idéia que dezenas de pessoas nesta cidade doam 4 horas e meia por semana para trancarem-se naquela casinha, pois já a vi e é pequena, e ficar esperando um telefone tocar? Então, quando isto acontecer, primordialmente ouvir e sequer tentar julgar ou se posicionar?

Eu critico a quase absoluta imparcialidade, afinal uma pessoa em dor geralmente busca aconselhamentos. Ainda assim, eu, como homem que já recorri dos serviços deles, digo que são bastante cautelosos quanto a dizerem o que acham sobre o que é contado.

Pior é quando o plantão é noturno, no qual eles têm que dormir em um quarto simples, partilhado por todos, sempre esperando um telefone tocar. Não, não há seguranças na sede, sequer câmeras. Não que deva haver muito o que se roubar por lá, mas a questão é:

Você sairia da sua cama quente, muitas vezes de ônibus, para ir dormir em um quase casebre em frente a uma bocada na Cidade Alta, para esperar que alguém que está passando por um aperto te telefone e, por fim, você possa, quem sabe, ajudar?

Eu já fui mais generoso e altruísta. A diferença, acho, entre os dois, é que o altruísmo é uma forma disfarçada de egoísmo, pois espera retorno. Já a generosidade, até onde entendo, é mais sincera e despretensiosa.

Em dias como hoje, em que acho que o mundo está uma droga e praticamente só enxergo dor, lembro-me destas pessoas. Vem-me à mente também o Foo Fighters.

There goes my hero, watching as he goes. He's ordinary.

A questão é que compramos a idéia de que um herói de nossa sociedade tem que ter alguma característica desejável e externalizada, de acordo com o nicho na qual sua excelência abranja. Esses voluntários, que têm esta generosidade em si e, portanto, internalizada, são geralmente ignorados.

Isto é, quando não são chamados de otários por estarem perdendo tempo com um surtado qualquer. Afinal, uma pessoa que chega ao ponto de ligar para o CVV só pode ser louca ou surtada, não?

Talvez, se meu professor tivesse ligado para um desses heróis anônimos, ele ainda estaria vivo. Pouco provável, pois ele parecia bem decidido mas, ainda assim, seria uma outra chance para a vida, para que ele mudasse o que o incomodava, se isto fosse possível.

Meus profundos respeitos a esses homens e mulheres que fazem seu trabalho em quietude, não aparecem na TV ou vestem roupas chamativas e, mesmo assim, salvam vidas.

De fato, como diz o comercial abaixo, a morte nunca mata apenas o falecido. Falo por experiência própria. Sem mencionar, como diria o rapper Emicida, um monte de gente que está viva mas que já morreu.



Vez ou outra, compreensivelmente, sou criticado pela minha excessiva necessidade de ventilação. A estes, deixo este outro vídeo: