domingo, 5 de setembro de 2010

Parabéns, Campeão!

Porque devo ser um sujeito bem-sucedido, não? Há um diabo de arma apontada para minha cabeça há muitos anos e, vez ou outra, ameaçam atirar.

A menos que eu seja bem-sucedido, claro.


Sucesso


Meu bem, me dei bem
Tenho um carro do ano
Muitos me conhecem
E também esquecem
Quando cometo um engano

Meu bem, consegui
Expiei o pecado
De ser outro coitado
Que não ligava
Nem era ligado

Hoje fui perdoado
Sigo o senso-comum
Tenho poder e status
Não sou mais um
Segui a cartilha
Saí da minha ilha

Sou bem sucedido
Lembro-me de quando era
Um fodido

Porque cantava, acreditava no amor
Não contava dinheiro, confiava demais
Dava terceiras chances, preferia a paz
Fazia coisas por fazer, filosofava
Não ligava para o que diziam
Nem sacaneava ninguém

E justamente por isso, não era alguém

Mas tudo mudou, olhe meu novo computador
Ele é moderno, assim como eu
As lojas vendem tudo que em mim morreu
Não existe nada que não seja comprável
Igualei as pessoas aos objetos, é perfeito!
Agora tudo é descartável

Meu bem, obrigado
Você me mostrou a luz
O sabor do dinheiro, o poder que seduz
Sou um homem mudado, obrigado
Até creio em Deus, agora
Ele abençoa meus atos e deu a Ferrari
Estacionada lá fora

Eu era ridículo
Tentava não julgar pelas roupas e acessórios
Mas hoje o conteúdo é só um par de brincos
Velhos e usados demais, eu quero conforto, idéia fixa e paz
Não quero nem preciso pensar por mim mesmo

Enquanto ganhar dinheiro e der satisfações
Ao que antes julgava serem ilusões
Estará tudo bem, meu bem
Muito obrigado, este mundo é fantástico
Espero que seu querer não seja como quase tudo:
De plástico

Sou um adulto, agora!
Minha infância morreu com o encanto
Escondido em seu canto


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